terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Como se Arrepender...

O texto a seguir foi adaptado de uma mensagem ministrada na Conferência “Heart-Cry for Revival” (Clamor do Coração por Avivamento) em abril de 2008, na Carolina do Norte, EUA.

Em determinada época da minha vida, tive um sonho que Deus usou para falar comigo. Eu estava passando por um período muito seco, espiritualmente. Começava a orar por algo e logo mais parecia estar mendigando do que orando. Tome muito cuidado com essa atitude de mendigar a Deus por coisas, porque passa a ideia de que precisa mais daquela coisa do que dele. É como se estivesse dizendo: “Tu não és suficiente para mim, Senhor; preciso daquilo”.

Eu conhecia bem as promessas das Escrituras, como, por exemplo: “...tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco” (Mc 11.24). Eu reivindicava o cumprimento de tais promessas – e quando isso não acontecia, ficava desapontado. Comecei a pregar uma série de mensagens na igreja, intitulada Deus está operando mesmo quando não posso vê-lo, porque nenhum outro tema fazia sentido para mim. Orava e jejuava e dizia: “Senhor, não posso continuar assim. Não posso mais ministrar se não sair desse lugar seco”.


Foi então que tive o sonho. No sonho, vi Deus operando de forma muito poderosa, como só acontece em sonhos. Vi Deus passando pelo país inteiro, como um rio inundando e lavando a terra. Fiquei ali, observando, e uma imensa alegria enchia meu interior, alegria verdadeira, alegria de alma. Superava e ofuscava tudo que antes eu conhecesse por alegria.

Quando me levantei de manhã, havia um esboço na minha mente. Tinha estes cinco pontos:

Deus no trono: um quadro de santidade. Precisamos voltar a vê-lo assim. Perdemos a visão de um Deus elevado e exaltado. Deus é glória inefável. Ele habita em luz inacessível. Ninguém pode ver Deus e viver. Nosso Deus é um fogo consumidor (Hb 12.29). Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb 10.31). Precisamos voltar a ver Deus no trono: um quadro de santidade.

Pecado no espelho: um quadro de quebrantamento. Na igreja, hoje, vemos pecado nos jornais e na vizinhança; conseguimos enxergar pecado por toda parte, menos no espelho, quando estamos olhando para nós mesmos. A maioria dos cristãos é muito deficiente quando se trata de enxergar seu próprio pecado. Se você perguntar a um cristão típico: “Em que aspecto de sua vida Deus está tratando agora, no sentido de santificá-la? O que ele está fazendo?”, ele responderá: “Não sei”.


O ego na lama: um quadro de arrependimento. Queremos subir a níveis mais elevados, mas não queremos descer antes. Toda nossa celebração superficial nunca toca o âmago da questão. Isaías dizia que eram “ofertas vãs” (Is 1.13). O ego na lama significa descer aos lugares mais humilhantes. Até onde seu ego já foi rebaixado?


Cristo na cruz: um quadro de graça. A graça só é impressionante quando é vista como o remédio para um problema visto e reconhecido. Graça sem pecado é inútil. É um remédio para uma doença que não admito possuir. Por outro lado, quando você vê pecado no espelho e o ego na lama, a graça é incrivelmente maravilhosa.

O Espírito no controle: um quadro de poder. O Senhor me deu Oséias 6.1-3 como tema desse esboço: “Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou, e nos sarará; fez a ferida, e a ligará...” Eu amo especialmente esta promessa: “Como a alva a sua vinda é certa”. O sol nasceu hoje de manhã? Então, da mesma forma, Deus saiu para realizar sua obra no mundo, assim como faz todos os dias.

Primeiro passo no avivamento

Meu tema é o ponto central na lista acima: o ego na lama: um quadro de arrependimento. Arrependimento é o funil pelo qual passa todo avivamento. Você quer que seu coração seja tocado? Quer alcançar um lugar mais alto em Deus? Comece com arrependimento.

A palavra avivamento não está na Bíblia como substantivo. O verbo avivar (vivificar), porém, está. “Vivifica-nos, e invocaremos o teu nome” (Sl 80.18). “Desvia os meus olhos para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho” (Sl 119.37). “Estou aflitíssimo; vivifica-me, Senhor, segundo a tua palavra” (Sl 119.107, uma oração durante tempo de provação).

Arrependimento é o primeiro passo para o avivamento. Uma passagem clássica no Novo Testamento encontra-se em 2 Coríntios 7, que mostra uma verdade importante: arrependimento é uma boa coisa.

A igreja em Corinto era uma igreja problemática. Era composta de pessoas mundanas, sectárias, carnais. Paulo escreveu algumas cartas aos coríntios, duas das quais foram preservadas no Novo Testamento. Além disso, ele passou pela cidade de Corinto várias vezes.


As coisas que estavam acontecendo lá estavam entristecendo o coração de Paulo. Na segunda carta aos Coríntios, ele faz referência a uma carta anterior: “Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido (vejo que aquela carta vos contristou por breve tempo)...” (2 Co 7.8).

Nessa carta anterior, ele havia escrito, com termos bem fortes, mais ou menos o seguinte: “Vocês estão fazendo isso e aquilo. Parem de agir assim!” Paulo os amava e sabia que era difícil para eles ouvir palavras como essas. Dá a impressão de que ele teve alguns momentos de dúvida. “Será que falei demais? Fui duro demais com eles? Eu os amo. Não quero afastá-los.” Se você já passou por algo assim, sabe que esse tipo de situação parte o coração. Você não quer falar muito. Se não dá para apanhar o fruto, pelo menos não o machuque!

Entretanto, a igreja em Corinto precisava ouvir essas palavras, e alguém precisava dizê-las. Paulo disse que foram contristados ou feridos pela verdade apenas “por breve tempo”. Por quê? O Espírito Santo penetrou seus corações, sentiram-se contristados (com convicção de pecados) e se arrependeram.

Paulo escreveu: “Agora me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento” (v. 9). Em outras palavras, Paulo disse: “Agora estou tão feliz que disse aquelas palavras. Foi duro por um tempo. Eu não os queria perder, mas agora vejo que o Espírito Santo usou minhas palavras para trazer convicção, e isso quebrantou seu coração. Agora vocês se arrependeram, e estou muito contente que Deus tenha feito isso”.

Eis a chave: arrependimento.

Arrependimento em toda a Bíblia

Era essa a mensagem que se ouviu da boca de cada mensageiro bíblico. É impossível não percebê-la no Velho Testamento. Todos os profetas pregavam a mesma mensagem: “Arrependa-se!”. Ezequiel, Isaías e Oséias a pregavam: “Arrependa-se!”. A mesma mensagem foi pregada vez após vez após vez. Por quê? Porque é o funil pelo qual passa toda graça! Se Deus conseguir nos levar a um lugar de arrependimento, a partir daí tudo será abençoado. Contudo, enquanto não chegarmos a essa posição, nosso serviço para o Senhor será ineficaz.

Alguns argumentam que os entusiastas por avivamento só pregam do Velho Testamento. Vá ao Novo Testamento, então. Veja João Batista; sobre o quê ele pregava? “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3.2). E os discípulos? Em Marcos 6.12, lemos que “saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse”. E, em Lucas 15.7, que “haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”.

E na igreja primitiva? No dia de Pentecoste, mais de 3 mil pessoas se converteram. Qual foi o assunto naquela ocasião? “Arrependei-vos!” Era esse o assunto em Atos 2. E, novamente, em Atos 3.19,20: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que da presença do Senhor venham tempos de refrigério...”

Vocês querem tempos de refrigério, querem mesmo? Arrependam-se, para que venham tempos de refrigério. E a exortação em Atos 17.30: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam”.


Talvez você pense que era essa a mensagem dos apóstolos, mas não o coração de Jesus para nós. Leia Apocalipse 2.16: “Portanto, arrepende-te...”. Foi a mensagem de Jesus para a igreja em Pérgamo. “…e se não, venho a ti sem demora, e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.” Em Apocalipse 3.19, Jesus diz: “A quantos amo…” Hoje, que tipo de mensagem daríamos à Igreja? “A quantos amo, eu abençôo? Paparico? A quantos amo, favoreço com toda sorte de maravilha?” Não é assim que Jesus age. “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te.” Esse é o coração do Senhor para nós hoje, desejando que alcancemos um lugar de genuíno arrependimento.

O que é arrependimento?

Eu acho que a maioria das pessoas não sabem o que é arrependimento. Elas vivem a vida cristã e o processo de santificação de acordo com 1 João 1.9: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça". "Se confessarmos os nossos pecados..." – você sabe o que isso significa? Eu ouvi um estudioso da Bíblia dizer uma vez que confessar significa dizer o que Deus diz. O que Deus diz sobre pecado? Ele diz que é pecado. Então, o que eu digo? "É pecado, Deus. Perdoa-me, Deus, eu pequei novamente.” 1 João 1.9 diz: “…fiel e justo para nos perdoar”. “Sinto muito, Deus. Perdoa-me, Deus.” Que conceito medíocre de confissão!

Antes que você possa dizer o que Deus diz sobre pecado, você precisa ver o que ele vê. Arrependimento é o processo de ver o que Deus vê. Você nunca confessará de verdade enquanto não se arrepender antes. Confissão é fácil se vier depois do processo extremamente difícil de arrependimento. Se arrependimento fosse fácil, todos estariam se arrependendo. A maioria dos cristãos está presa em um ciclo de pecado, confissão, pecado, confissão, pecado, tomando posse da graça, citando 1 João 1.9 – mas sem qualquer mudança. Arrependimento é o processo de ver o pecado como Deus o vê. Não é uma coisa fácil de se fazer.


Arrependimento é mudança em todas as maneiras e em todos os níveis. Arrependimento não é mudar de cônjuge, de emprego, de endereço ou de amigos. Arrependimento é mudar no lugar em que é mais necessário. Arrependimento é mudar o interior da pessoa – a maneira como penso, como vejo, como sinto. Arrependimento não leva à mudança; arrependimento é mudança. Arrependimento é reconhecer o pecado pelo que é, seguido por uma tristeza do coração e culminando em uma mudança de comportamento. Você não se arrepende, e arrepende, e arrepende, e arrepende sobre as mesmas coisas, vez após vez. Não é que não possamos ter recaídas, mas arrependimento é mudança. Não penso mais sobre o pecado da mesma forma.


Arrependimento é minha mente, minhas emoções, minha vontade; é a totalidade de quem eu sou. Pense sobre a história do filho pródigo (Lc 15.11-32). Ele roubou a herança e acabou indo morar com porcos. Então, de repente, a Bíblia diz que ele caiu em si. Teve uma mudança de mente.


A Bíblia diz que arrependimento é um ato realizado em Deus (Jo 3.21). Você não o consegue fazer por si mesmo. Em Atos 5.31, diz: "Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados." Deus oferece isso a você. E veja em Atos 11.18: "E ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida".


Em 2 Timóteo 2.25, encontramos uma passagem clássica sobre o arrependimento ser uma obra de Deus. Paulo diz que os servos de Deus devem disciplinar "com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem a verdade...".


Você não consegue ver a verdade por si mesmo. Se você ou alguém que você ama é prisioneiro do pecado, fica impossível para vocês enxergá-lo. Quando o filho pródigo estava naquele chiqueiro e voltou à razão, foi porque Deus o havia tocado. De repente, ele olhou em volta de si e pensou: “O que estou fazendo aqui?”.


Portanto, em primeiro lugar, ele teve uma mudança de mente. Depois teve uma mudança de coração. Ele teve este sentimento: “Não sou mais digno de ser chamado filho. Mereço ser escravo”. Passou a pensar de modo diferente sobre si mesmo. Antes ele estava inchado, mas depois voltou à razão e caiu em si.

Ele teve uma mudança de mente e uma mudança de coração, mas ainda faltava uma outra parte do arrependimento. Quando alguém realmente está se arrependendo, a vontade começa a unir-se à mente e a formar um plano. “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi...” Quando a pessoa está verdadeiramente arrependida, não precisa dizer-lhe o que fazer. Ela descobre por si mesma quando Deus faz a obra em seu coração. Arrependimento é mente, é emoção, é vontade.

Arrependimento antes de avivamento

Todas as bênçãos que Deus quer derramar para nós vêm através deste funil de arrependimento; arrependimento em mim antes de avivamento em mim. Quando foi a última vez que Deus tratou com você por algum pecado? Quando foi a última vez que seus olhos se encheram de lágrimas por causa da obra incompleta de santificação em sua vida? Quando foi a última vez que Deus quebrantou seu coração por causa da lacuna entre Jesus e você? Quer avivamento? Arrependimento é o ponto de partida.

Algumas categorias de pecado

O Espírito de Deus não traz convicção sobre generalidades. O Espírito de Deus é como um cirurgião: “Isto precisa ser cortado”. Vamos começar a sondar:

A primeira categoria é orgulho, a segunda é prazer e a terceira é prioridade. Sob a categoria de orgulho: orgulho sobre sua posição. Se você quer ser apresentado, se quer ser conhecido, se quer ser reconhecido, se tem uma posição e está ansioso que os outros saibam quem você é ou o que conquistou, você tem um problema de orgulho. Orgulho é anti-Deus; onde há orgulho, Deus não está.

Logo depois vem o orgulho de prestígio – meu status. Eu preciso de aplauso, preciso de reconhecimento. Depois vem orgulho de poder. “Não preciso de posição e prestígio; tenho poder. Eu governo minha casa.” Dominar os outros, usar minha influência é orgulho. Deus é capaz de humilhar aqueles que andam em orgulho (Daniel 4).

Uma segunda categoria de pecado é prazer. Prazeres não são errados, mas desejá-los com a intensidade errada, na hora errada ou com a pessoa errada torna o prazer pecado. O primeiro na categoria de prazer é sexo: minhas necessidades, quando quero, da maneira que quero, aquilo que quero. É pecado. E, em segundo lugar, uma substância, legal ou ilegal. “Eu tenho que possuir ou conseguir isto.” A compulsão de ter algo além de Deus é pecado. Não esteja sob o domínio de nada além de Deus, seja uma pessoa, uma situação ou uma substância legal ou ilegal. Pela graça de Deus, como seguidor de Jesus, não aceito estar sob o domínio de coisa alguma. Se eu estiver, é pecado.

Em seguida vêm “coisas”. Dizemos a nós mesmos: sei que vou ser feliz quando eu tiver aquele carro, aquela casa, aquela viagem, etc. Por um lado, há pessoas que pensam que as coisas são más em si mesmas e querem fazer votos monásticos. Isso não leva à santidade. Por outro lado, há pessoas que pensam que bênção e riqueza são a mesma coisa. Precisamos de equilíbrio. Salmo 62.10 diz, “...se as vossas riquezas prosperam não ponhais nelas o coração”. Não é errado ter coisas; é errado que elas me possuam! Deus não divide o trono com ninguém. Quando penso que coisas materiais podem me dar felicidade, me satisfazer e me dar algo que só Deus pode dar, isso é idolatria. Se é idolatria, é pecado.

Em terceiro lugar, tem uma categoria geral de prioridades, o bem que não foi feito. Tiago diz que se você sabe fazer o bem e não o faz, é pecado (Tg 4.17). A primeira prioridade é com relação de não cuidar de mim mesmo. O meu corpo é templo do Espírito Santo, e não cuidar de mim – comer excessivamente, não se exercitar, trabalhar demais, não ter lazer, não ser uma pessoa equilibrada ou não viver de maneira saudável – é pecado. Preciso cuidar de mim mesmo. Quero servir a Deus por quantos dias ele me der, mas servir demais ou ter lazer demais não é honrar a Deus. Precisamos de equilíbrio.

A segunda prioridade é os outros. Deus dá valor aos relacionamentos e às pessoas. Seja amável, bondoso, perdoador. Abrigar no coração ressentimento e falta de perdão como resultado de alguém que me feriu é um câncer para a alma, e é pecado. Precisamos arrepender-nos disso. “Estou errado, Deus, não posso guardar isso contra ela. Preciso liberá-la disso”.

Guardei o melhor para o final – o maior prioridade é Deus em primeiro lugar. Deus primeiro em meu dia, Deus primeiro em minha semana, primeiro e com a maior prioridade em minha vida. “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).

Avivamento é apenas um sonho até que sejamos específicos e nos arrependamos de pecados específicos. Não apenas dizer: “Ó Deus, quero ser um cristão melhor”. Precisamos nos arrepender.

Marcas de arrependimento

Em 2 Coríntios 7, vemos cinco marcas de genuíno arrependimento. Uma base bíblica para identificar marcas de arrependimento é Lucas 3.8: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. Em outras palavras, embora não possa ver dentro do seu coração, quando o arrependimento existe no coração, este é o fruto que estará na árvore. Jesus disse: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20). Então, podemos saber se alguém está arrependido, mas talvez não de imediato. A pessoa pode fazer a oração, dizer as palavras e derramar as lágrimas, e, com o tempo, você verá os frutos. É por isso que lemos em Atos 26.20: “...que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento”.

A primeira marca de verdadeiro arrependimento é tristeza pelo pecado. Paulo diz em 2 Coríntios 7.9-10: “...fostes contristados segundo Deus... Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação”.

A expressão mais clara sobre os sentimentos que acompanham o arrependimento em toda a Palavra de Deus é tristeza. Mas nem toda a tristeza é arrependimento. O apóstolo Paulo diz que tristeza segundo o mundo é algo como: “Estou triste por sentir-me tão mal”, “Sinto muito que fui descoberto”, “Sinto muito por ter prejudicado tanto minha imagem”, “Sinto muito porque não gostas disso, Deus”. É um “Sinto muito por mim...”, “Sinto muito por mim...” em contraste a uma verdadeira tristeza de coração pelo que fiz contra Deus.

O pecado é antes de tudo uma rejeição a Deus. O pecado diz: “Tu não tens razão sobre isso, Deus. Não vou sofrer por isso, Deus. Tu não podes satisfazer esta necessidade em mim, Deus. Eu preciso possuir isso, Deus”. Pecado é uma rejeição a Deus. Genuíno arrependimento é uma rejeição desse pensamento errado. Começa com uma tristeza santa, angústia da alma. A primeira marca de verdadeiro arrependimento é tristeza pelo pecado. Só Deus pode concedê-la.

A segunda marca é repulsa pelo pecado. Veja o versículo 11: “Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados!” O verdadeiro arrependimento de coração é óbvio, é zeloso, tem pressa, diligência. “Estou farto de minha boca fofoqueira.” “Não aguento mais meu olho lascivo.” “Estou cheio desse vício debilitante.”

Note no versículo 11: “que indignação”, um sentimento de forte desconforto e oposição em que o objeto antes desejado se torna repulsivo. “Não desejo aquilo mais. Não o suporto.” Então um dos frutos do arrependimento é repulsa. É quando “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” torna-se realidade (Rm 13.14). Só Deus pode conduzi-lo para um lugar onde você cai em si e vê o pecado pelo que realmente é.

Eu acredito, porém, que você pode cultivar um coração arrependido. Você pode buscar ao Senhor. “...arai o campo de pousio; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós” (Os 10.12), e: “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13). Você pode buscar a Deus por arrependimento. Se pedir pão, ele lhe dará uma pedra? Deus não é relutante em conceder arrependimento, mas não creio que seja algo fácil de se conseguir: tristeza pelo pecado e repulsa pelo pecado. “Que cuidado... que indignação...”

A terceira característica do arrependimento é restituição a outros. Note também que em 2 Coríntios 7.11 Paulo diz: “que defesa”. É a ideia de empenhar-se para consertar as consequências do pecado. Quando você está realmente arrependido, você não vê a hora de acertar tudo com as pessoas que seu pecado feriu. Muitas pessoas na igreja dizem estar bem com Deus, mas não estão bem com aqueles que foram feridos pelo seu pecado. “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18).

Que Deus nos perdoe por afirmarmos que estamos bem com ele, levantando mãos “santas” para ele, ao mesmo tempo em que ignoramos totalmente como nosso pecado afetou outros. Versículo 11 diz: “Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto”. Você já fez tudo o que poderia ser exigido. Empenhou-se para ver o relacionamento restaurado.

Quando arrependimento é muito difícil

Há duas categorias de pecado em que arrependimento e restituição são muito difíceis. A primeira é oportunidade desperdiçada. Você joga fora uma oportunidade; como se arrepende disso? Uma garota teve um aborto. Como pode consertar isso? Um homem divorciou-se de modo não-bíblico. Agora sua primeira esposa já está casada com outro. Como se arrepende disso?

Um casal tinha três filhos; o marido e a mulher trabalhavam fora. Eram ricos e muito ocupados. Seus filhos tinham tudo, menos os pais. Agora, depois de adultos, os filhos não querem nada com Deus. Como se arrepende disso? É muito difícil arrepender-se de oportunidades desperdiçadas.

A segunda categoria é de prazeres consumidos. É extremamente difícil arrepender-se de um prazer consumido: uma explosão de raiva, uma bebedeira, um envolvimento homossexual, contemplação particular de pornografia, hábitos de glutonaria, uma forte compulsão, uma procura consciente, uma escolha deliberada, um prazer consumido.

“Estou dizendo que sinto muito, Deus. Acho que estou arrependido. Quero estar arrependido, mas sempre faço novamente.” Veja Esaú (Hb 12.16-17). Ele não encontrou o arrependimento, apesar de tê-lo buscado diligentemente com lágrimas. Por quê? Ele era uma pessoa profana. Vendeu seu direito de primogênito por um prato de comida. Pecou contra a verdade, e isso ao ponto de não se importar mais.

Você pergunta: “Pode ser tarde demais para uma pessoa?” Sim. O Espírito de Deus não contenderá para sempre com todos os homens (Gn 6.3). “É tarde demais para mim?” Se você ainda se importa, então não é. Esaú não conseguia mais se importar. Só se importava consigo mesmo. Às vezes a restituição é muito difícil. Como se faz restituição por uma oportunidade perdida? Como se faz restituição por um prazer consumido? É por isso que o pecado é tão sério.

Graças a Deus, há boas novas também. Um quarto sinal de verdadeiro arrependimento é renovação para com Deus. Paulo diz em 2 Coríntios 7.11, “...que temor”. Temor é a atitude do coração que busca um relacionamento correto com aquele a quem se teme. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111.10). Quando você vive em um estado de não arrependimento, você não teme a Deus. Você faz o que quer. Mas quando se arrepende, você tem esse temor em sua vida, temor de estar em um relacionamento errado com Deus, de perder seu favor, de fazer algo para descrédito de seu nome, ou de perder sua bênção. É doloroso lidar com desapontamento e injustiça, mas eu preferiria sofrer a injustiça do que exercer a vingança por mim mesmo, porque temo a Deus.

Paulo diz “que temor, que saudades, que zelo”. Isso é avivamento, renovação! E veio do arrependimento. Zelo é uma paixão central pelas coisas do Senhor, um renovado interesse após um período de indiferença ou declínio, é experimentar e desfrutar mais de Deus em minha vida. É ser renovado para com Deus!

A característica final de arrependimento genuíno é prosseguir adiante, não olhar para trás. Note o que diz em 2 Coríntios 7.9: “...de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis”. Paulo está dizendo que não estava desperdiçando o tempo deles. Não estava falando de algum ponto trivial que não tem a ver com o melhor de Deus para suas vidas. Pelo contrário, se você levar a sério esse processo de arrependimento, sua vida alcançará níveis mais altos.

E depois note no versículo 10: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar”. Se a tristeza segundo Deus produz arrependimento sem pesar, o que a tristeza segundo o mundo produz? Pesar. Você sabe que seu arrependimento não é genuíno se está se perguntando: “Por que sou assim?”. Arrependimento é não pensar mais sobre o passado. Arrependimento é uma experiência que muda a vida. Arrependimento é “que Deus me ajude pelo resto de minha vida. Vai ser diferente agora e nada irá me impedir”.

Até que ponto você está levando a santidade a sério? Não faça provisão para a carne. Nenhuma! O fato mais impressionante sobre o arrependimento é que ele produz tristeza genuína. Tristeza do mundo produz lamento e pesar. Tristeza genuína, segundo Deus é olhar para frente para aquilo que a partir de agora serei. “Eu posso ser diferente, posso ser mudado, posso ser renovado – se eu me arrepender...”

Tratando com pecados específicos

Senhor, sonda-me. Será que sou culpado de ira... ansiedade... contenda... vícios... intolerância... amargura... pretensão... dissensão... vaidade... desejo de dominar... excesso de emotividade... temor da opinião de outros... cobiça... língua crítica... engano... depressão... insensibilidade aos outros... dependência de drogas... alcoolismo... inveja... falsa modéstia... medo... sentimento de rejeição... sentimento de incapacidade... sentimento de inferioridade... glutonaria... ganância... falsa culpa... ódio... hostilidade... luxúria homossexual... idolatria... impaciência... impulsividade... pensamentos impuros... indiferença com outros... insegurança... intemperança... ciúme... preguiça... isolamento dos outros... desejos carnais por prazer... materialismo... negativismo... envolvimento em ocultismo... teimosia... hipersensibilidade a outros... passividade... preconceito... profanidade... transferência de culpa... disposição a fofoca... rebeldia a autoridade... ressentimento... inquietação... tristeza prolongada (inconsolável)... egocentrismo... autoindulgência... autojustificação... autopiedade... autoconfiança... justiça própria... autossuficiência... sensualidade... luxúria... falta de perdão... inflexibilidade... pavio curto... falta de amor... soberba... omissão... excesso de trabalho?

Convido você a pensar sobre esses pecados específicos. Senhor, queime o nosso coração sobre essas coisas. Sou culpado? Sou assim? Deus, tu podes quebrantar meu coração com relação a isso? Podes dar-me fé para acreditar que honras o arrependimento genuíno a ponto de transformar-me? Posso quebrar o ciclo de pecar, confessar, pecar, confessar – que me prendeu por tanto tempo? Podes por teu Espírito remover por completo as racionalizações que me mantiveram amarrado neste lugar? Perdoa-me, Senhor, por ter me comparado com outros quando só tu és o padrão. Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Toda a terra está cheia da tua glória!

James MacDonald é pastor da Harvest Bible Chapel, Rolling Meadows, Illinois, EUA.

Para não pecar contra ti.

De todo meu coração te busquei (Sl 119.10-12).

Eis aqui o objetivo almejado. Como disse alguém corretamente: Aqui está a coisa mais preciosa - tua palavra; oculta no melhor lugar - em meu coração; com o melhor dos propósitos -para não pecar contra ti. Isso foi feito pelo salmista com cuidado pessoal, como alguém que oculta cuidadosa­mente seu dinheiro quando receia a presença de ladrões; neste caso, o temível ladrão era o pecado. "Pecar contra Deus" é o con­ceito cristão de mal moral; as demais pessoas só se preocupam quando ofendem seus semelhantes.

A palavra de Deus é o melhor preventivo para a ofensa contra Deus, pois ela expressa sua mente e vontade e se propõe a levar nosso espírito a conformar-se com o divino Espírito. Nenhuma cura para o pecado na vida se compara a palavra na sede da vida, que é o coração.

Obtém-se uma agradável variedade de significado pondo a ênfase nas palavras 'tua' e 'ti'. Ele fala a Deus, ama a palavra por­que ela é a palavra de Deus e odeia o pecado porque ele é pecado contra o próprio Deus.

Se porventura aborrece alguém, sua con­clusão é que com isso ele ofendeu a Deus. Se não provocamos o desprazer de Deus é porque entesouramos sua própria palavra.

E também digno de nota o modo pessoal como alguém temen­te a Deus faz isso: "De todo meu coração te busquei." Seja o que for que outros escolham fazer, ele já fez sua escolha e já colocou a Palavra nos recessos mais íntimos de sua alma como seu mais de­sejável deleite; e se porventura outros preferem transgredir, seu alvo é seguir após a santidade: "Para eu não pecar contra ti." Isso não era o que se propusera fazer, mas o que já havia feito.

Muitos são ostensivos em prometer; o salmista, porém, fora autêntico em concretizar; por isso esperava ver um resultado seguro. Quando a Palavra está escondida no coração, a vida estará resguardada do pecado.
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