terça-feira, 22 de setembro de 2009

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA na caminhada de combate à “intolerância” religiosa no Brasil.

As evangélicas Benedita da Silva e a deputada estadual Beatriz Santos (IURD) foram impedidas pelo presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), sr. Ivanir dos Santos, de subirem ao carro de som, conforme publicado no Jornal do Brasil, de 21 de setembro de 2009, abaixo transcrito. Esse mesmo senhor, Ivanir do Santos, foi à Organização das Nações Unidas, tempos atrás, dizer que um novo tipo de perseguição estava ocorrendo no Brasil – a religiosa, e acusou as igrejas neopentecostais de desencadearem isto. É bom que todos saibam que há no Brasil centenas de igrejas neopentecostais, a saber algumas delas: Igreja Sara Nossa Terra, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Renascer em Cristo, Igreja de Nova Vida, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidades Evangélicas (inúmeras), Igreja Universal do Reino de Deus, Comunidade Cristã Paz e Vida e outras centenas, umas mais outras menos visíveis.
Será que o sr. Ivanir já assistiu a algum culto nessas denominações para afirmar tal aberração na ONU?


Será que uma perseguição será desencadeada contra os neopentecostais?
É mais uma prova que essa tal comissão, assim como seus eventos, visam, única e exclusivamente, proteger os adeptos de cultos oriundos da África. E o pior, com repaldo estatal.
Eles deveriam deixar cair logo as máscaras e mostarem logo seus objetivos.
Que tal mudar o nome para Comissão de Combate à Intolerância aos Cultos oriundos da África?


Acordem associações e líderes evangélicos !


Acordem parlamentares evangélicos !

HOLOFOTE NELES.

holofote.net

Divórcio e Novo Casamento::Extremos Opostos na Questão do Divórcio: O Que Jesus Faria?

A proporção de casais que terminarão a vida sem passar por uma experiência de divórcio e novo casamento, mantendo seus votos assumidos diante de Deus e dos homens, já está bem abaixo de 50% na sociedade em geral. Na igreja, não é muito diferente.
O que a igreja tem a dizer, ou melhor, a mostrar sobre essa situação? O que fazer com casais que já estavam num segundo ou terceiro casamento quando tiveram um encontro com Jesus? O que fazer com casais que se separam depois de conhecerem Jesus? Como encarar líderes que se separam e casam novamente?Existem muitas posições e opiniões a respeito disso na igreja hoje – mais do que em algumas épocas passadas em que o número de divórcios não era tão grande. Como em qualquer assunto complexo, existem dois extremos e várias interpretações intermediárias de ambos os lados do ponto ideal de equilíbrio. Em linhas gerais, porém, podemos reunir as posições reconhecidamente opostas em duas grandes classes: os liberais, que interpretam as Escrituras com mais flexibilidade, aceitando divórcio e novo casamento para os cristãos sem muitas restrições; e os conservadores ou fundamentalistas, que se apegam com bastante rigidez às ordens determinadas pela Palavra, geralmente restringindo não só a permissão de novo casamento para quem é cristão como também a aceitação na igreja de quem já está num segundo casamento (caso não o desfaça).
Para ilustrar as duas formas opostas de se tratar essa questão (e muitas outras na vida cristã), vamos descrever algumas situações concretas, baseadas em casos reais, mas com alterações de nomes e detalhes, para preservar a identidade das pessoas. Na verdade, são histórias genéricas, representativas de centenas de outras semelhantes em toda parte da igreja hoje.

A Redação

Lado Liberal
Como se Nada Houvesse Acontecido
O pastor de uma das maiores igrejas da cidade tinha um ministério bem conhecido de cura divina e milagres. Como costuma acontecer nesses casos, pessoas vinham de todas as partes da cidade e das regiões circunvizinhas para serem curadas. O ministério estava expandindo-se para outras cidades através de obreiros treinados pelo pastor. Novas igrejas estavam surgindo; milagres estavam acontecendo.
De repente, uma notícia inesperada: o pastor estava se divorciando da esposa para casar-se com a secretária. Seria o fim do ministério?
Evidentemente, nenhum acontecimento como esse passa sem grandes repercussões, principalmente quando a pessoa envolvida é um proeminente líder religioso. Comentários maliciosos na mídia, ataques e isolamento por parte de colegas no ministério, membros da igreja se debandando. Nada disso surpreendeu – embora a reação dos cristãos e de outros líderes na cidade deixasse muito a desejar!
Surpreendente, sim, foi o fato de que a igreja, em sua grande maioria, aceitou que o pastor continuasse com eles, como se nada houvesse acontecido. Anos depois, o ministério dele continua firme e forte: igrejas crescendo, milagres acontecendo.
Ministério em Alta – Família em Baixa
Era um culto de adoração, domingo à noite, numa igreja que estava numa excelente fase de crescimento e expansão. Depois do período de louvor, o pastor chamou sua esposa à frente e, juntos, anunciaram à congregação estupefata que estavam se divorciando depois de vinte anos de vida matrimonial.
Embora fosse uma decisão sofrida, tomada após um longo período de tentativas e aconselhamento com profissionais qualificados, o pastor afirmou que a separação era amigável e não envolvia infidelidade da parte de nenhum dos dois.
A causa, segundo eles, era o fato de que estavam caminhando em direções opostas. O pastor assumiu cem por cento da culpa, afirmando que estava arrependido por ter tomado uma série de decisões erradas e por ter falhado em cuidar melhor do casamento.
A igreja não ficaria desamparada, porém. O pastor avisou que continuaria à frente do ministério, enquanto sua agora ex-esposa, que passaria a se dedicar mais ao seu próprio ministério de televisão e viagens, voltaria com freqüência para pregar.
Alguns membros da igreja estavam muito chocados e, ainda durante o culto, saíram do auditório para telefonar para amigos e parentes. Outros, embora abalados, testemunharam que não deixariam de fazer parte da igreja. “Superaremos a crise”, disse um que participa da congregação há dez anos. “Todo o mundo passa por essas coisas, e a igreja não ficará enfraquecida.”
Lado Fundamentalista
Os Proscritos
Paulo olha para a sua filha de 8 anos, observando enquanto ela rega alguns vasos dentro do apartamento, tomando o cuidado de colocar a medida exata de água no vaso para não derramá-la. É uma linda menina, bem comportada e muito alegre, que gosta de estudar e vai bem na escola. É o fruto do seu casamento com Teresa, a moça que ele conhecera e por quem se apaixonara anos atrás.
Eles se conheceram na igreja que freqüentavam. Ambos já maduros em idade – perto dos trinta –, com plenas condições de tomar decisões sérias. Ele havia sido cristão desde a juventude, quando se convertera e fora discipulado. Ela conheceu o Evangelho já bem mais tarde, sendo agora obrigada a viver uma vida discreta devido ao seu passado – e ao divórcio que carregava no seu histórico.
Casara-se muito jovem, sem experiência, e o casamento não durou nem um ano. Felizmente não tivera filhos. Quando conheceu Jesus Cristo, percebeu que a sua condição de divorciada lhe trazia algumas restrições e, por isso, procurava se manter à distância de um possível novo casamento. Cuidado inútil: quando Paulo apareceu na sua vida, os dois logo se apaixonaram. Casaram-se e passaram a viver parcialmente felizes como família.
Sim, parcialmente porque a igreja que fora o lar de Paulo desde sua juventude agora não o aceita mais por ter se casado com uma divorciada. Não adianta argumentar que o primeiro casamento e o divórcio da Teresa foram experiências tristes de um passado distante, quando não tinha conhecimento do Senhor, e que houve circunstâncias importantes naquele primeiro fracasso que precisam ser analisadas.
Hoje, formam um casal modelo: são fiéis um ao outro, se respeitam e estão educando a filha nos caminhos do Senhor. Nada disso, porém, os tira da circunstância de fazerem parte da grande legião de proscritos – aqueles que estão proibidos de pertencer a uma igreja. É claro que existem igrejas que os aceitariam, que não fariam tais exigências; mesmo assim, Paulo sonha com o dia em que a sua filha possa ser acolhida e participar das atividades daquela igreja que um dia o isolou e que ele ainda ama.
“Vocês seriam um problema para nós”
Francisco nasceu numa família cristã e participava regularmente da Escola Dominical e dos programas da igreja durante os anos de infância e adolescência. Enquanto estava na faculdade, apaixonou-se por Sara, a mulher dos seus sonhos, e casou-se com ela. Seis anos depois, envolveu-se num caso extraconjugal, trazendo ruína ao casamento e à própria vida. Espiritualmente, afastou-se de Deus e, fisicamente, de sua família. Rapidamente, ficou sem Deus, sem igreja e sem esperança.
Débora também foi criada numa família cristã. Fazia parte de uma igreja que enfatizava o estudo da Palavra e santidade de vida e sempre procurou viver dentro desses princípios. Casou-se com um moço de família abastada da sua cidade, mas descobriu que era um tirano abusivo, movido pelo egoísmo. Os votos dele para amar, honrar e cuidar não significaram nada e, depois de um tempo, passou a atormentar Débora e os filhos durante explosões de violência e intimidação, quando ficava alcoolizado.
Isso continuou por alguns anos, mas, finalmente, a falta de qualquer perspectiva de mudança da parte dele convenceu Débora de que o divórcio seria a única saída segura. Só que a partir do divórcio, seus problemas passaram a vir da igreja. Ela se sentia cada vez mais envergonhada quando participava das reuniões. Os olhares e expressões das pessoas, os comentários feitos por trás, as pregações aparentemente dirigidas para ela foram se somando na sua consciência e fazendo com que se sentisse inferior e indigna.
No fim, acabou se afastando da igreja, e foi então que conheceu Francisco. Por causa da dor que ambos traziam da experiência anterior e da dificuldade para confiar novamente, foram bastante cautelosos nesse novo relacionamento. Mas, com o tempo, ficou claro que havia um futuro para eles e para seus filhos, e se casaram.
A primeira prioridade depois do casamento foi achar o caminho de volta para uma vida de comunhão com Deus e com a igreja. Como estavam em outra cidade, ninguém sabia a respeito do seu passado. Durante seis meses, participaram de uma congregação, integrando-se em classes de estudo bíblico e nos cultos de adoração, enquanto esperavam o momento oportuno para revelar sua história.
Durante um período de estudo e comunhão com um dos pastores da igreja, resolveram contar suas histórias de divórcio e afastamento de Deus.
“Devido ao tipo de divórcio que tiveram”, o pastor lhes disse quando terminaram, “preciso lhes dizer que esse seu novo casamento seria um problema para nós. Sinto muito, mas não podemos receber vocês na nossa igreja. Sua experiência e seu passado poderiam contagiar outras pessoas.”
Com isso, ele se levantou e se retirou da vida de Francisco e Débora.
“Odeio esse Jesus que separou meus pais”
Um casal, que tinha um filho de uns oito anos, se converteu e começou a freqüentar a igreja. Embora ainda jovem, o marido já vinha de um casamento fracassado e era divorciado da primeira esposa. Quando começaram a participar das atividades da igreja, depois de tomar conhecimento desses fatos, a liderança os orientou a se separarem, já que estavam vivendo “em estado de pecado”.
Obedientes e cientes de que, se não seguissem a orientação recebida, seriam considerados “rebeldes”, resolveram de fato se separar. Quem não se sentiu bem com a nova situação foi o filho. O menino se revoltou e chegou a gritar: “Odeio esse Jesus que separou os meus pais”.
Preocupados com a reação do menino, alguns irmãos da igreja e os próprios pais separados buscaram orientação da liderança. Foram consolados com a afirmação convicta dos líderes de que o Espírito Santo encontraria uma maneira de fazer com que a criança aceitasse a nova situação.

Fonte: Impacto

Divórcio e Novo Casamento:: O Ensino De Cristo Sobre O Divórcio II

Vamos agora considerar a declaração de nosso Senhor nos versículos 31 e 32, que versa sobre o tema do divórcio. Quero começar ressaltando que, quando chegamos a um tema e a uma passagem bíblica como esta, então notamos o valor de um estudo sistemático do ensino escriturístico. Quão freqüentemente se ouve um sermão calcado sobre um texto como este? Não é verdadeira a declaração que essa é uma espécie de questão que os pregadores tendem por evitar? E, naturalmente, ao assim fazerem, tornam-se culpados de um pecado. Não nos convém estudar algumas porções da Palavra de Deus e ignorar outras; não nos convém retroceder diante das dificuldades. Estes versículos, que ora consideramos, fazem parte da Palavra de Deus tanto quanto qualquer outro segmento das Escrituras. Mas, em face do fato que não costumamos expor a Bíblia de forma sistemática, devido à nossa tendência de separar os textos de seus respectivos contextos, e de escolher aquilo que nos agrada e interessa, ignorando e esquecendo-nos do resto, tornamo-nos culpados de uma vida cristã pouco equilibrada. Naturalmente, por sua vez isso leva ao fracasso na prática real. Portanto, para nós é um excelente exercício pesquisarmos dessa maneira corrente o Sermão do Monte, até atingirmos esta declaração do Senhor.Por uma razão ou outra, muitos comentadores, embora tenham planejado escrever um comentário sobre o Sermão do Monte, passam por cima deste assunto, sem o ventilarem. Todavia, podemos compreender facilmente por qual razão as pessoas procuram evitar uma questão desta natureza, embora isso não lhes sirva de justificativa. O Evangelho de Jesus Cristo diz respeito a cada aspecto e porção de nós mesmos, e não nos assiste o direito de dizer que existe alguma faceta de nossas vidas fora de seu escopo. Tudo o de que precisamos nos é suprido no Evangelho, onde encontramos um claro ensino e instrução acerca de cada aspecto de nossas vidas, de nossos seres. Ao mesmo tempo, porém, qualquer pessoa que se tenha dado ao trabalho de ler livros sobre esse tema, e as diversas interpretações em torno do mesmo, deve ter percebido que estamos a braços com uma questão circundada de inúmeras dificuldades. A maioria dessas dificuldades, todavia, é criação humana, podendo ser atribuída, em última análise, à doutrina da Igreja Católica Romana, a qual diz que o matrimônio é um sacramento. Tendo fixado posição, agora ela manipula as declarações da Bíblia para que se adaptem à sua teoria. Entretanto, deveríamos agradecer a Deus que não estamos abandonados a nós mesmos e às nossas idéias, mas antes, na Bíblia dispomos desse claro ensino e instrução. Nossa tarefa consiste em enfrentarmos com honestidade aquilo que é determinado pelas Escrituras.

Ao abordarmos esses dois versículos, lembremo-nos uma vez mais do seu pano de fundo ou contexto. Essa afirmação é uma daquelas seis declarações feitas por nosso Senhor, mediante as quais Ele introduz Seu assunto através da fórmula: “Ouvistes que foi dito… Eu, porém, vos digo…” Estes versículos aparecem naquela seção do Sermão do Monte onde nosso Senhor demonstrava a relação entre o Seu reino e o ensino da lei de Deus, a qual fora dada por intermédio de Moisés ao povo de Israel. Jesus começou afirmando que não viera para destruir, e, sim, para cumprir cabalmente; de fato, conforme Ele disse, nenhum “i” ou “til” haveria de passar da lei, enquanto tudo não fosse plenamente cumprido. E em seguida encontramos aquelas palavras que dizem: “Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:19-20). Em seguida, o Senhor começou a expor o Seu ensino, à luz desse pano de fundo.

Guardando essa informação na mente, lembremo-nos igualmente, de que, nesses seis contrastes apresentados por nosso Senhor, Ele não estava comparando a lei de Moisés, como tal, com a Sua própria doutrina; antes, Ele comparava essa lei com a falsa interpretação exposta pelos fariseus e escribas. Nosso Senhor, como é óbvio, não declara que viera corrigir a lei de Moisés, porquanto essa era a lei de Deus, entregue a Moisés pelo próprio Deus. Não, o propósito de nosso Senhor foi o de corrigir a perversão, a interpretação falsa, conforme os escribas e fariseus vinham ensinando ao povo. Portanto, Jesus honrava a lei de Moisés, exibindo-a em sua notável plenitude e glória. Naturalmente, isso é exatamente o que Jesus faz com relação ao problema do divórcio. O Senhor estava particularmente interessado em desmascarar o falso ensino dos fariseus e escribas no que dizia respeito a essa importante questão.

A melhor maneira de abordarmos esse assunto consiste em estudá-lo de acordo com três divisões principais. Em primeiro lugar, devemos ter idéias claras acerca do que a lei de Moisés realmente ensinava sobre essa questão. Em seguida, precisamos ter a certeza do que os fariseus e os escribas ensinavam. Em último lugar, precisamos considerar o que o próprio Senhor Jesus ensinava.

Em primeiro lugar, pois, o que realmente ensinava a lei de Moisés acerca desse problema? A resposta acha-se em Deuteronômio 24, sobretudo nos versículos 1 a 4. Em Mateus 19, nosso Senhor refere-se novamente a esse ensino, e, em certo sentida oferece-nos um perfeito sumário do mesmo, embora ainda assim seja necessário examinarmos as declarações originais. Via de regra, há muita confusão a respeito desse ponto. A primeira coisa a observar na dispensação mosaica é que a palavra “adultério” não é mencionada dentro do ensino referente ao divórcio; e isso pela excelente razão que, sob a lei mosaica, a punição para o adultério era a morte. Sob a antiga lei, qualquer pessoa que fosse achada em adultério era apedrejada até morrer, e, por esse motivo, não havia necessidade desse pecado ser mencionado. Por causa do adultério, o matrimônio chega ao fim; todavia, não chegava ao seu término por causa de um processo de divórcio, e, sim, pela execução da sentença de morte. Esse é um princípio importantíssimo, que devemos entender com toda a clareza.

Qual, pois, era o objetivo e o propósito da legislação mosaica no tocante ao divórcio? A resposta para essa pergunta pode ser prontamente encontrada, não somente quando lemos Deuteronômio 24, mas, sobretudo, quando lemos aquilo que nosso Senhor declarou a respeito daquela legislação. O objetivo inteiro da legislação mosaica, quanto a esse particular, era meramente o de controlar o divórcio. A situação se tornara inteiramente caótica. Eis o que estava acontecendo. Naqueles dias, conforme você deve estar informado, geralmente os varões tinham as mulheres em baixíssima conta, e haviam chegado ao extremo de crer que eles tinham o direito de se divorciarem de suas esposas quase por qualquer razão indigna e frívola. Se um homem, por qualquer motivo que fosse, quisesse livrar-se de sua mulher, eis como agia. Apresentava qualquer espécie de desculpa esfarrapada, e, com base nela, divorciava-se de sua esposa. Naturalmente, a causa verdadeira da separação nada mais era do que a concupiscência e a paixão. É interessante observarmos como, neste Sermão do Monte, nosso Senhor introduziu o tema do divórcio em conexão imediata com o assunto imediatamente anterior, isto é, a questão toda da concupiscência. Há versões da Bíblia em que esses dois temas aparecem juntos, formando um único parágrafo. Talvez não seja certo fazer-se isso, mas, pelo menos, faz-nos lembrar a íntima conexão entre essas duas questões. A legislação mosaica, por conseguinte, foi introduzida a fim de regularizar e controlar uma situação que não somente se tornara confusa, mas que também era grosseiramente injusta com as mulheres, e que, em adição a isso, conduzia a sofrimentos intermináveis e indizíveis muitas mulheres e crianças.

Três grandes princípios foram aqui salientados. O primeiro é o princípio de um divórcio limitado a determinadas causas. Só era permissível quando havia algum defeito natural, moral ou físico, descoberto na mulher. Todas as diversas desculpas que os homens vinham usando e apresentando, agora estavam invalidadas. Antes que pudesse obter o divórcio, um homem tinha de provar que havia algum motivo deveras especial, descrito sob o título de “impureza” ou “imundícia”. Não somente o homem tinha de provar o fato, mas também tinha de estabelecê-lo à vista de duas testemunhas. Portanto, longe de oferecer um grande número de razões para o divórcio, a legislação mosaica limitava grandemente o número desses motivos. Ela eliminava todas as razões frívolas, superficiais e injustas, restringindo-as a uma única questão.

O segundo aspecto frisado pela legislação mosaica era que qualquer homem que se divorciasse de sua mulher teria que dar-lhe carta de divórcio. Antes da legislação mosaica, um homem podia simplesmente dizer que não mais queria a sua esposa, e podia despedi-la de casa; e ela ficava, portanto, à mercê do mundo inteiro. Uma mulher repudiada podia ser acusada de infidelidade ou adultério, e, dessa maneira, era passível de apedrejamento até à morte. Por conseguinte, a fim de proteger a mulher, essa legislação determinava que fosse dada uma carta de divórcio à mulher, um documento onde fosse especificada a causa do divórcio, não por causa de infidelidade conjugai, mas por causa de qualquer dessas outras razões que porventura tivesse sido descoberta. Essa providência tinha por intuito proteger a mulher, e a carta de divórcio lhe era entregue na presença de duas testemunhas, as quais ela sempre poderia convocar, em qualquer caso de necessidade. O divórcio foi transformado em uma medida formal e séria, e a idéia por detrás disso era a de gravar na mente daquelas pessoas que o divórcio era um passo solene, e não algo que se efetivasse frivolamente, em algum momento de paixão, quando um homem subitamente sentisse aversão por sua esposa e quisesse desvencilhar-se dela. Dessa maneira, pois, foi enfatizada também a seriedade do matrimônio.

O terceiro passo dado pela legislação mosaica era extremamente significativo, a saber, o homem que se divorciasse de sua esposa, dando-lhe carta de divórcio, não tinha a permissão de contrair segundas núpcias com ela. A questão era colocada assim. Um homem se divorciava de sua mulher e lhe dava carta de divórcio. Com essa carta na mão, ela tinha o direito de casar-se com algum outro homem. Ora, seu segundo marido também poderia vir a divorciar-se dela e dar-lhe uma carta de divórcio. Sim, estipulava a lei de Moisés, mas se isso viesse a acontecer, e ela estivesse na liberdade de casar-se pela terceira vez, não mais podia contrair matrimônio com o que fora seu primeiro marido. A força inteira desse preceito é exatamente a mesma, pois tendia por fazer aquela gente ver que o casamento não é uma aventurazinha da qual podiam entrar e sair ao seu bel-prazer. Antes, determinava a um homem que, se viesse a dar à sua esposa uma carta de divórcio, teria que fazê-lo de maneira permanente.

Quando examinamos a questão sob esse prisma, notamos que a antiga legislação mosaica na verdade está muito longe de ser aquilo que antes pensávamos que fosse, especialmente aquilo que os fariseus e os escribas ensinavam a respeito. Seu objetivo era o de impor certa ordem a uma situação que se tornara inteiramente caótica. O estudioso pode observar que essa sempre é uma característica de todos os pormenores da legislação mosaica. Tomemos, por exemplo, a questão da vingança, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. Assim preceituava a lei mosaica. Sim, mas qual era o objetivo de uma determinação como essa? Não era ensinar ao povo judeu que se um homem danificasse um olho de outro homem, a vítima podia retaliar de igual maneira. Não, mas o seu propósito era o de dizer: Ninguém tem o direito de matar um homem por causa de uma ofensa desse tipo; antes, será olho por olho; ou então, se alguém danificar um dente de outrem, será dente por dente, e não mais do que isso. A legislação inteira a respeito visava restaurar a ordem a um estado caótico, limitando as conseqüências e legislando a respeito de cada situação em particular. Ora, a lei atinente ao divórcio preceituava precisamente a mesma coisa.

Ora, convém considerarmos o ensino dos fariseus e escribas porque, conforme temos verificado, era especialmente a esse ensino que nosso Senhor fazia alusão neste ponto. Eles diziam que a lei de Moisés ordenava, e até mesmo recomendava, que um homem se divorciasse de sua mulher, sob variegadas condições. Ora, como é evidente, a legislação mosaica jamais dissera coisa semelhante. A lei de Moisés nunca ordenou ao homem divorciar-se de sua mulher; tudo quanto ela fazia era dizer a um homem: “Se você quiser divorciar-se de sua mulher, só poderá fazê-lo segundo tais condições”. Entretanto, os fariseus e os escribas, conforme o Senhor Jesus deixou particularmente claro, em Mateus 19, quando falava sobre o mesmo tema, ensinavam que Moisés ordenara o divórcio. Como é lógico, o passo seguinte que eles davam consistia em exigir novamente o direito de se divorciarem de suas esposas, por causa de qualquer motivo tolo e insignificante que se possa imaginar. Eles tomavam a antiga legislação mosaica, no tocante a essa questão das impurezas, e acrescentavam a isso a sua própria interpretação sobre o que isso significaria. Chegaram assim ao extremo de ensinar que se um homem deixasse de gostar de sua esposa, ou se, por qualquer motivo, encontrasse nela algo que lhe parecesse insatisfatório, em certo sentido isso constituía uma “impureza” na mulher. Quão típico é isso quanto a doutrina dos fariseus e escribas, e seu método de interpretar a lei. Na realidade, porém, eles estavam fugindo da lei, tanto no que concerne à letra como quanto no que concerne ao seu princípio básico. E o resultado disso era que, nos dias de nosso Senhor, terríveis injustiças vinham novamente sendo cometidas contra as mulheres, que podiam receber de seus maridos cartas de divórcio pelos motivos os mais frívolos e disparatados. Para aqueles homens, só havia uma questão realmente importante, que era a outorga, de forma legal, de uma carta de divórcio. Quanto a isso, eles eram minuciosos, conforme também se mostravam a respeito de todos os demais detalhes legais. Não obstante, ninguém declarava mais o motivo do divórcio, pois esse motivo perdera a importância. O que era supremamente importante é que à mulher repudiada fosse dada uma carta de divórcio!

Nosso Senhor, pois, colocou a questão como segue: “Também foi dito” — pois isso é o que todos têm ouvido da parte dos escribas e fariseus. Qual é a coisa importante para “aquele que repudiar sua mulher”? que ele dê a ela uma “carta de divórcio”. Como é lógico, esse aspecto era importante, tanto que a lei de Moisés havia determinado esse preceito. Contudo, conforme é fácil de ver, esse não era o fator principal, como também não era aquilo que podia ser frisado e enfatizado. No entanto, no que dizia respeito aos fariseus e aos escribas, dar carta de divórcio ocupava o centro do quadro; e assim, ao enfatizarem isso, haviam perdido de vista o verdadeiro significado do matrimônio. Não tinham levado em conta a questão inteira do divórcio, e nem a razão para o mesmo, de uma maneira veraz, justa e correta. Dessa maneira o ensinamento mosaico havia sido pervertido pelos fariseus e escribas. Fugiam e evitavam enfrentar diretamente a lei, com as suas astutas interpretações e tradições, que eles haviam adicionado à lei. O resultado é que o intuito final da legislação mosaica já fora, mediante essas coisas, inteiramente escondido e anulado.

Isso nos conduz à nossa terceira e última principal divisão. Que dizia nosso Senhor quanto a isso? “Eu, porém, vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada, comete adultério” (Mateus 5:32). Ora, a declaração que se encontra em Mateus 19:3-9 é extremamente útil e importante quanto à correta interpretação desse ensino, por ser uma explicação mais completa daquilo que nosso Senhor disse aqui, em forma de sumário. Os fariseus e os escribas haviam perguntado de Jesus, visto que procuravam apanhá-lo em uma armadilha: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” Eles estavam realmente jogando com tudo quanto tinham, ao fazerem essa indagação, pois eles mesmos sancionavam tal ensino. E então o Senhor lhes deu a resposta. O primeiro princípio básico por Ele salientado foi o da santidade do matrimônio. “Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas…” Você deve observar que Jesus retrocedeu até a um tempo anterior ao daquele em que foi dada a legislação mosaica, isto é, até a lei dada no tempo da criação do homem. Quando Deus criou a mulher, para ser a ajudadora do homem, fez aquela grande afirmação. Dissera Deus: “… tornando-se os dois uma só carne”. “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” O matrimônio não consiste em um contrato civil, e nem em um sacramento apenas. O casamento é algo mediante o que duas pessoas, marido e mulher, tornam-se uma só carne. Em tudo isso existe algo de natureza indissolúvel, e nosso Senhor retrocedeu até àquele primeiro princípio básico sobre a questão. Quando Deus criou a mulher para o homem, essa foi a intenção dEle, isso foi o que Ele indicou e ordenou. A lei ordenada por Deus é que o varão deixe pai e mãe a fim de unir-se à sua esposa, para que os dois se tornem uma só carne. Algo novo e distinto passa então a existir, antigos laços são rompidos, e um novo laço é formado. Esse aspecto, que alude a “uma só carne”, é deveras importante. Você poderá descobrir que esse é um princípio que percorre a Bíblia inteira, sempre que esse tema é tratado nas Sagradas Escrituras. É tema que pode ser visto em 1 Coríntios 6, onde Paulo diz que a coisa mais horrenda que circunda as relações sexuais ilícitas é que o homem se torna uma só carne com a prostituta — ensino esse dos mais solenes e graves. Nosso Senhor começa por aí. Ele retrocede até ao tempo da criação, ao ponto de vista original de Deus a respeito do matrimônio.

Contudo, alguém poderia indagar: “Se as coisas são realmente assim, como se pode explicar a legislação mosaica quanto a essa questão?” Sim, se esse é o ponto de vista divino sobre o matrimônio, por que Ele permitiu a instauração do divórcio, conforme as condições que temos estado a considerar? Nosso Senhor uma vez mais respondeu àquela pergunta dizendo que, devido à dureza dos corações humanos, Deus fizera uma concessão, por assim dizer. Deus não ab-rogou a Sua lei original referente ao casamento. Todavia, introduziu uma legislação temporária, para atender às condições então prevalentes. Deus estava controlando tudo. Exatamente a mesma coisa ocorrera no tocante ao estatuto que dizia “olho por olho, dente por dente”. Aquilo constituiu uma tremenda inovação, ao ser posta em vigor; mas, na realidade, Deus estava apenas conduzindo o povo judeu de volta à Sua declaração original. Explicou, pois, o Senhor: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres”. Não estava em vista a idéia que Deus advogava o divórcio, ou que Ele estivesse ordenando que um homem se divorciasse de sua mulher. Antes, Deus procurava lançar alguma ordem em uma situação que se tornara caótica, regularizando aquilo que se tornara inteiramente irregular. Precisamos manter no primeiro plano de nossas idéias essa questão do objetivo e da intenção primários de Deus, no que concerne a toda essa questão do casamento: marido e mulher feitos uma só carne, a indissolubilidade do matrimônio e a vida em comum sobre essas bases.

Esse primeiro princípio leva-nos ao segundo, o qual diz que Deus nunca, em parte alguma, ordenou que alguém se divorciasse. Os fariseus e os escribas sugeriam que assim acontecera, contudo, no caso da lei de Moisés. Sem dúvida a legislação mosaica determinava que um homem desse carta de divórcio à sua esposa, caso se divorciasse dela. Mas isso não equivale a um mandamento que ordene o divórcio. A idéia ensinada na Palavra de Deus não é somente o conceito da indissolubilidade do matrimônio, mas também é o conceito que envolve a lei do amor e do perdão. Precisamos desvencilhar-nos daquela abordagem legalista que leva um homem a dizer: “Minha esposa estragou a minha vida, e, por esse motivo, devo divorciar-me dela”. Na qualidade de pecadores indignos e sem qualquer merecimento, fomos todos perdoados pela graça de Deus, e isso deve fazer parte do quadro, controlando nossa perspectiva acerca de tudo quanto nos acontece, no que toca a outras pessoas, mormente em relação ao casamento.

O princípio seguinte reveste-se da mais capital importância. Só existe uma razão legítima para o divórcio — aquilo que é aqui chamado de “relações sexuais ilícitas”. Ora, nem preciso enfatizar toda a urgente relevância de todo esse ensinamento. Vivemos em uma época em que as condições se têm tornado caóticas quanto a essa questão do divórcio; e ainda há outras propostas, da parte dos legisladores, que tendem por facilitar ainda mais o divórcio, propostas essas que só servirão para agravar ainda mais o problema. Eis o ensino de nosso Senhor no tocante ao tema. Segundo Ele, só existe um motivo para o divórcio. Sim, há um motivo; mas somente um. E esse motivo é a infidelidade conjugai por parte de qualquer dos cônjuges. Esse termo “relações sexuais ilícitas”, é inclusivo e realmente significa infidelidade da parte de um dos cônjuges. “Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera” (Mateus 5:32). Cumpre-nos perceber quão importante é esse princípio. Ele revestiu-se de particular importância nos dias da Igreja primitiva. Se você ler I Coríntios 7, descobrirá que essa questão é novamente ventilada. Naqueles tempos, foi mister enfrentar o problema dessa maneira, o que envolveu um grande número de crentes. Imaginemos um casal. Subitamente o marido se converte, mas não a mulher. Temos aí um homem que se tornou uma nova criatura em Cristo Jesus, mas cuja esposa continua no paganismo. Àqueles primeiros crentes era rigidamente ensinada a doutrina que o crente devia separar-se do mundo e do pecado. Portanto, imediatamente eles chegavam à conclusão que os forçava a dizer: “É-me impossível continuar vivendo na companhia de uma mulher que continua paga. Por certo, se eu tiver de viver a vida cristã, terei de divorciar-me dela, porque ela não é crente”. E muitas mulheres, que se tinham convertido, mas não seus maridos, diriam a mesma coisa. Não obstante, Paulo ensina àqueles crentes que um marido, sob essas condições, não deveria abandonar sua esposa, por ter-se ele convertido, mas ela não. Como você está percebendo, nem mesmo isso servia de causa suficiente para o divórcio. Meditemos sobre todo esse moderno debate acerca da incompatibilidade de gênios. Poder-se-ia imaginar pessoas mais incompatíveis do que um crente e um incrédulo? Ora, de conformidade com as noções modernas, se jamais houve motivo para o divórcio, certamente esse seria o motivo principal. No entanto, o claro ensino das Escrituras é que nem mesmo isso serve de base para o divórcio. Diz o apóstolo Paulo: “Não abandone seu cônjuge incrédulo!” A esposa que se convertera, mas cujo esposo continuava na incredulidade, santificaria o seu esposo. Não precisaria temer acerca dos seus filhos; pois, se qualquer dos cônjuges fosse crente, a família inteira ficaria sob a proteção divina, desfrutaria do privilégio da nutrição cristã, dentro da vida ativa da Igreja.

Ora, esse é um argumento deveras importante e vital. Essa foi uma das maneiras de imprimir nos crentes esse grandioso princípio, estabelecido pelo próprio Senhor Jesus. Coisa alguma serve de motivo para o divórcio, exceto a infidelidade conjugal. Sem importar quão difícil se tenha tornado a situação entre marido e mulher, sem importar quais sejam as tensões e demandas, sem importar o quanto se possa dizer acerca da incompatibilidade de gênios, coisa alguma pode dissolver esse liame indissolúvel, salvo essa única causa, que é a infidelidade conjugai. E, eu enfatizo novamente que esse é o único motivo. Nosso Senhor mesmo afirmou ser essa a causa legítima para o divórcio. Jesus ajuntou que Moisés fizera determinadas concessões, “por causa da dureza do vosso coração”. No entanto, isso era agora proposto como um princípio básico, e não mais como uma concessão à desobediência humana. Jesus mesmo asseverou que a infidelidade conjugal é motivo suficiente para o divórcio, e a razão para tanto é absolutamente óbvia. Uma vez mais, está em pauta aquela idéia bíblica que marido e mulher são “uma só carne”; pois o cônjuge que se fez culpado de infidelidade rompeu esse laço ao unir-se sexualmente a uma terceira pessoa. O elo se quebrou, não existe mais “uma só carne”, e, por esse motivo, o divórcio é perfeitamente legítimo. Quero enfatizar, uma vez mais, que não encontramos aqui um mandamento. Todavia, temos aqui a única causa legítima para o divórcio, e o homem que se vir na situação aqui retratada tem o direito de divorciar-se de sua mulher, e a mulher tem o direito de divorciar-se de seu marido.

O passo seguinte deixa tudo isso ainda mais claro. Nosso Senhor esclareceu que se alguém divorciar-se de sua mulher, por qualquer outro motivo que não seja a infidelidade conjugal, arrisca-se a torná-la adúltera. “Eu, porém, vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera.. .” (Mateus 5:32). O argumento pode ser reduzido ao seguinte: Só existe uma coisa capaz de romper os laços matrimoniais. Portanto, se um homem vier a separar-se de sua esposa por qualquer outro motivo, estará separando-se dela sem haver rompido aqueles laços. Isso posto, ele a estará forçando a quebrar esses laços, se porventura ela vier a casar-se de novo; e, assim sendo, ela estaria cometendo adultério. Destarte, o homem que se divorcia de sua mulher por qualquer razão que não seja essa, ao assim fazer estará obrigando sua mulher a cometer adultério. O marido será o causador desse adultério, e o homem que vier a casar-se com a mulher repudiada também será adúltero. Isso posto, nosso Senhor reforçou esse grande princípio, da maneira positiva e clara. Só existe uma causa legítima para o divórcio, e não há outra.

Qual, pois, é o efeito dessa doutrina? Poderíamos sumariar a questão como segue. Nosso Senhor mostra-nos aqui que Ele é o grande Legislador. Todas as leis tiveram origem nEle; tudo quanto diz respeito a este mundo e a esta vida, veio dEle. Houve uma legislação temporária para os filhos de Israel, devido às suas circunstâncias peculiares. A pena imposta pela legislação mosaica aos adúlteros era a morte por apedrejamento. Nosso Senhor, entretanto, ab-rogou essa legislação apenas temporária. E a próxima coisa que Ele fez foi legitimar o divórcio no caso de relações sexuais ilícitas. Jesus mesmo firmou dessa maneira a lei. E dois são os grandes resultados dessa Sua doutrina. Daquele tempo em diante homens e mulheres não mais seriam apedrejados até à morte, por motivo de adultério. Se alguém quiser tomar alguma providência, em face de um caso de adultério, que se divorcie. E daí podemos deduzir, mui legitimamente, importante e séria conclusão. Podemos afirmar não somente que um homem que se divorciou legitimamente de sua mulher — em face de adultério por ela cometido — tem o direito de fazê-lo, mas podemos ir ainda mais adiante e dizer que o divórcio pôs ponto final àquele casamento, e que agora aquele homem está livre de obrigações matrimoniais; e, na qualidade de homem livre, tem o direito de casar-se novamente. O divórcio, quando legítimo, põe fim a toda e qualquer vinculação anterior, segundo ensinou o próprio Senhor Jesus. O relacionamento daquele homem para com sua esposa tornou-se o mesmo como se ela tivesse morrido; e este homem inocente tem o direito de casar-se de novo. Mais do que isso, se ele é um homem crente, então tem o direito de ter um casamento cristão. Porém, nesse caso, somente ele teria esse direito, e não ela; ou vice-versa, caso o culpado tivesse sido o homem.

Alguém poderia indagar: “E quanto ao cônjuge culpado, nada há para ser dito?” Tudo quanto posso adiantar acerca desse cônjuge (e digo-o com extrema cautela, após muita meditação, quase com senso de temor, pois a ninguém quero transmitir a idéia de que estou encorajando o pecado, através de alguma declaração minha), que, com base no Evangelho de Cristo, e a interesse da verdade, sou compelido a asseverar o seguinte: O próprio adultério não é o pecado imperdoável. Trata-se de um pecado terrível, mas Deus nos livre de pensar que alguém que tenha cometido tal pecado fique de tal modo separado do amor de Deus e expulso do Seu reino. Não; mas se alguém arrepender-se verdadeiramente de seu pecado de adultério, percebendo a enormidade desse delito e entregando-se aos cuidados do amor, da misericórdia e da graça de Deus, que não conhecem limites, então poderá estar seguro do perdão divino. Todavia, que o tal ouça as palavras de nosso bendito Senhor: “Vai, e não peques mais” (João 8:11b).

Aí, portanto, foi exposto o ensinamento de nosso Senhor sobre tão vital assunto.

Você é testemunha das condições vigentes no mundo e na sociedade ao nosso redor.Surpreende-nos ainda que este mundo seja o que é, quando homens e mulheres brincam e se divertem com as coisas mais sérias e com a Palavra de Deus, em uma questão tão importante quanto é o matrimônio? Que direito temos para esperar que as nações cumpram os seus acordos, uma vez que homens e mulheres, nem mesmo quanto às questões mais solenes e sagradas, como é o caso do matrimônio, observam os seus deveres? Devemos começar por nós mesmos; devemos começar pelo princípio; precisamos observar a legislação divina em nossas próprias vidas, como indivíduos. Então, e somente então, teremos o direito de confiar em povos e nações, esperando um tipo diferente de conduta e comportamento da parte do mundo em geral.

(Texto extraído do capítulo 24 de “Estudos no Sermão do Monte”, Martyn Lloyd-Jones, editora Fiel).

por Martyn Lloyd-Jones

Fonte: Impacto

Divórcio e Novo Casamento:: Graça Barata ou Lei da Nova Aliança?

Freqüentemente, quando nos deparamos com situações não exatamente previstas nas Escrituras ou casos polêmicos que dividem opiniões no meio do povo de Deus, somos tentados a perguntar: por que Deus não deixou uma instrução mais clara sobre isso em sua Palavra? Não haveria mais discussão, e tudo ficaria tão simples!
Por exemplo, no caso do divórcio, por que Jesus não definiu de uma vez por todas se a cláusula de exceção inclui a possibilidade de novo casamento? Teria evitado volumes e volumes de argumentos, defesas, ataques e confusões. Dá até a impressão de que a ambigüidade foi proposital. Mas, neste caso, teríamos que concluir que Deus tem prazer em nos deixar tateando no escuro. Ou será que teria uma outra razão?As Duas Alianças

Na verdade, a chave desse mistério está na diferença fundamental entre a lei do Velho Testamento e a dispensação que Jesus introduziu na Nova Aliança. O princípio da lei é que corações endurecidos e obscurecidos pelo pecado requerem ordens e limites claramente estabelecidos. Deus precisava revelar sua natureza e o padrão de sua santidade através de leis e mandamentos para que o homem pudesse ver a extensão da sua queda e a impossibilidade de restaurar a si mesmo.
Por outro lado, a premissa da Nova Aliança é que corações quebrantados, renovados e cheios do Espírito Santo irão muito além do “mínimo necessário” estabelecido na lei. Quem ama seu próximo não precisa do mandamento “Não matarás”. Quem considera que tudo pertence ao Senhor não terá que ser cobrado para dar 10%.
A lei define os comportamentos e ações do homem que são inaceitáveis a Deus. Já os motivos e intentos do coração estão fora do seu alcance. Conseqüentemente, em tese pelo menos, é possível alguém cumprir rigorosamente os preceitos da lei diante dos olhos humanos e, ao mesmo tempo, ter um coração reprovado por Deus. Por isso, no Sermão da Montanha e em vários outros discursos, Jesus enfatizou tanto o interior em contraste com o exterior. Ele deixou muito claro: não era uma questão de abolir ou mudar a lei (Mt 5.17-20), e, sim, de cumpri-la além da letra, no espírito e intenção original de Deus quando a formulou. É por isso que a justiça dos discípulos de Jesus deveria “exceder em muito” a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5.20).

Os Fariseus e os Saduceus
Seis vezes, no Sermão da Montanha, Jesus disse “Ouvistes que foi dito… Eu, porém, vos digo” para contrastar a velha e a nova maneira de pensar e agir. Ao contrário do que muita gente pensa, conforme explica Martin Lloyd-Jones em seu livro “Estudos no Sermão da Montanha”, Jesus não estava corrigindo a lei, mas a falsa interpretação dada pelos fariseus.
Através dos séculos, os cristãos também têm interpretado mal a natureza da Nova Aliança. De um lado do espectro, os liberais entenderam que a lei não tinha mais validade e, por isso, ninguém precisava mais sentir-se obrigado a cumprir normas ou regulamentos. A graça da nova ordem para eles seria mais um ilimitado direito a ser perdoado do que a capacitação divina de viver uma nova vida. É o que costuma ser chamado de “graça barata”.
Na outra extremidade, os legalistas transformaram as palavras de Jesus e dos apóstolos em um novo código de ordens e mandamentos. Só aboliram as ordenanças cerimoniais, os sacrifícios animais, a guarda do sábado e os demais aspectos específicos da lei de Moisés. Porém a natureza essencial da lei foi mantida: o uso de ordens e mandamentos com limites específicos para impedir que corações duros e insensíveis achassem brechas para transgredir a vontade de Deus. Há pouco tempo, era comum entre determinadas igrejas a regulamentação de “usos e costumes” para controlar o comportamento exterior dos seus membros. Ainda que essas regras tenham caído em grande parte hoje, a prática de impor as normas encontradas no Novo Testamento sobre o povo continua, resultando no que podemos chamar a “lei da Nova Aliança”.
Lei da Nova Aliança? Não poderia haver maior contradição de termos. Como fariseus modernos, ao invés de buscar a transformação interior que nos dá o anseio de ir além do mandamento para agradar ao Pai, ficamos presos à letra, colocando jugos pesados sobre os outros e sobre nós mesmos. Enquanto isso, os saduceus são mais soltos, mais livres, mais espontâneos, mas erram o alvo do mesmo jeito, pois procuram uma liberdade que não é baseada na verdadeira Palavra viva. Ao rejeitarem o jugo dos mandamentos, acabaram jogando fora também os fundamentos e princípios da Palavra escrita.

Onde Está Nosso Manual?
Vamos voltar à nossa pergunta inicial. Por que Jesus não deixou instruções mais específicas sobre o divórcio? Pela mesma razão que ele e os apóstolos não deixaram um modelo definido para o governo da igreja, para a condução do culto, para a porcentagem exata que os cristãos devem contribuir e para tantos outros assuntos do dia-a-dia da igreja e da vida cristã. Primeiro, por uma questão prática, se tivéssemos normas definidas para a condução do culto, por exemplo, seríamos obrigados a adotar exatamente o mesmo tipo de cultura e costume em todas as épocas e em todos os lugares, o que definitivamente não combina com a natureza rica e multiforme do nosso Deus. Segundo, por causa da natureza essencial da Nova Aliança, nosso comportamento e prática exterior devem refletir nossa transformação interior e ser resultado do nosso contato vivo com Deus e não da obediência mecânica a um conjunto de regras.
O que encontramos na Palavra são princípios, fundamentos, chaves gerais. Quando os fariseus discutiram com Jesus sobre a brecha que Moisés deixou na lei para permitir o divórcio, ele os levou de volta ao princípio de tudo para entender o coração de Deus sobre o assunto. Jamais entenderemos a intenção ou o espírito da Palavra se tentarmos extrair dela uma regra fixa que resolva todos os casos.
Como, então, lidar com as situações práticas? Se não existe uma “lei da Nova Aliança”, como podemos saber o que é permitido por Deus, agradável a ele, e o que não é?
Sem dúvida, a base de tudo está na Palavra escrita. Sabemos do valor que Jesus dava às Escrituras, usando-as como arma contra Satanás, como autenticação de todas as suas ações, como ponto referencial claro e indiscutível. Não estamos perdidos num oceano de incertezas, sem fundamentos, livres para fazer o que “sentimos” que está certo.
Por outro lado, como não temos um manual que ensina o que fazer em cada tipo de situação específica, devemos aplicar os princípios objetivos da Palavra de acordo com a revelação mais ampla da pessoa e do caráter de Deus, conforme vistos na Escritura como um todo, não por meio da interpretação duvidosa de palavras no original ou de textos isolados.

Vivendo de Acordo com o Espírito da Palavra
Antes que você comece a levantar objeções, pense um pouco em Jesus e como ele enfrentava os fariseus com suas controvérsias sobre a lei. Quando acusaram os seus discípulos de transgressão por apanharem espigas de trigo no sábado (Mt 12.1-8), Jesus usou o exemplo de Davi que, num momento de necessidade, comeu os pães da proposição do tabernáculo, em clara contradição a uma ordenança divina.
O que ele queria dizer com isso? Que Deus não liga para os detalhes, que não tem importância errar um pouco de vez em quando? Que a lei não é importante e agora podemos agir de acordo com nossa consciência ou nosso entendimento da vontade de Deus, desde que sejamos sinceros? Não! Ele estava dizendo que há uma forma de obedecer à lei na qual se cumpre o espírito da palavra, mesmo que se tenha de quebrar a letra de um determinado mandamento. Era o que queria dizer também quando afirmou que o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado (Mc 2.27).
É claro que isso não pode ser interpretado como uma licença para cada indivíduo cumprir o que pensa ser o espírito da Palavra e quebrar qualquer mandamento que quiser. Para nos proteger disso, existe a Igreja, o Corpo de Cristo, a liderança, o conselho de irmãos mais maduros etc. Na verdade, como Paulo exemplificou, embora ele fosse livre para agir como judeu ou gentio, debaixo da lei ou isento dela (1 Co 9.19-23), ele agia com muito mais domínio próprio e cuidado, pois o amor de Deus o constrangia (2 Co 5.14).
No caso do divórcio, uma das situações mais clássicas e controversas envolve o cônjuge que foi traído e que deseja iniciar um novo relacionamento. De acordo com a interpretação de alguns, a exceção de Mateus 5.32 e 19.9 só autoriza a separação, não um novo casamento. Nesse caso, a aplicação da “lei” poderá trazer um jugo que a pessoa não está preparada para carregar. É muito comum, nesses casos, as pessoas se afastarem da comunhão da igreja e até da comunhão com Deus por não conseguirem conciliar a exigência com sua capacidade de responder em obediência. Jesus condenou duramente os fariseus por atarem fardos muito pesados sobre as pessoas, que acabam morrendo pelo caminho por não conseguirem suportá-los (Mt 23.4).
Por outro lado, a “lei” do Novo Testamento pode ser interpretada de forma mais branda, se aceitamos que a exceção de Jesus permite o novo casamento. Com isso, perdemos o espírito da Nova Aliança. Vi, recentemente, um bom exemplo disso na coluna de um periódico evangélico em que um pastor responde a perguntas dos leitores. A pergunta era de um marido que, por ter sido traído pela esposa, queria saber se estava livre para se casar novamente. Em sua resposta, o pastor explicou sua posição dizendo que havia, sim, base para novo casamento, já que o caso dele se encaixava perfeitamente na exceção prevista por Jesus. Foi uma resposta coerente, fundamentada, bem explicada.
Entretanto, é justamente nesse tipo de contexto que proponho que estamos aplicando uma “lei da Nova Aliança” de forma contrária ao Espírito de Jesus. Como posso dar uma resposta a alguém que não conheço, cujo contexto me é totalmente desconhecido, discordando ou dando aval a uma decisão tão séria como essa? Como posso saber se já se esgotaram todas as possibilidades de restauração ou se o marido também não foi culpado, ainda que indiretamente, pelo ocorrido? Será que um coração quebrantado, transformado pela Nova Aliança, iria procurar um aval superior, uma brecha para poder se casar novamente, se houvesse pelo menos um pequeno raio de esperança pela restauração do seu casamento?
Um dos argumentos mais fortes contra a aceitação de exceções para um novo casamento é que as pessoas não lutam com tanto empenho para preservar a aliança quando acham que, se essa não der certo, sempre haverá a possibilidade de começar uma outra. Outra vez estamos perdendo a essência da Nova Aliança. Se as pessoas que se convertem na igreja – incluindo a nós mesmos – não forem transformadas a ponto de quererem ir além do mínimo necessário, além da letra, a fim de agradarem plenamente ao Pai, estamos perdendo todo o objetivo da obra de Jesus. Podemos até cumprir as normas conforme nosso entendimento da Palavra, mas não passaremos de servos inúteis (Lc 17.10).
“Ah, mas isso é muito utópico”, alguém vai replicar. “Nós não atingimos esse nível ainda.”
É verdade. Por isso, mesmo procurando não viver sob o regime da lei, ainda precisamos dos princípios, dos pontos de referência, dos “mandamentos” da Palavra para nos orientarem, para nos mostrarem em que aspectos nosso coração ainda não foi transformado na prática. Entretanto não precisamos nos contentar ou nos acomodar com esse estado. E jamais devemos colocar a “lei da Nova Aliança” como a forma correta ou final para regular a vida dos cristãos.
Assim sendo, na nossa interpretação e aplicação da Nova Aliança, procuremos enxergar tudo através da revelação integral da Pessoa de Jesus que temos na Palavra e na nossa comunhão com ele. O que Jesus faria nesta situação? Como o Jesus que rejeitou a aplicação fria e condenatória da lei à mulher apanhada em adultério trataria as pessoas que chegam à igreja hoje com vidas totalmente atrapalhadas, num segundo ou terceiro casamento? Como ele agiria com pessoas arrebentadas, feridas, sozinhas, sem chance de voltarem à primeira aliança?
Como o Jesus que expulsou os comerciantes da casa do Pai e condenou duramente aqueles que usaram suas tradições para invalidar a Palavra de Deus (Mt 15.6) olharia para líderes cristãos que anulam suas alianças e casam-se outra vez, simplesmente porque sentem que o amor acabou ou que não há mais base para manter seu casamento? Como ele responderia àqueles que buscam no significado das palavras originais ou na opinião de eruditos brechas para justificarem atitudes que banalizam o valor do casamento e, conseqüentemente, o valor da nossa aliança com Deus?
Há um caminho mais excelente, uma aliança muito superior à aliança da lei. Nossas alternativas não são apenas o caminho do legalismo ou o caminho do liberalismo. Se a Nova Aliança é para nós hoje, devemos buscar a realidade da sua transformação, não apenas uma teoria ou um jargão diferente. O caminho já foi aberto; não nos contentemos em viver fora dele!

por Christopher Walker
Fonte: Impacto

Divórcio e Novo Casamento:: O Equilíbrio dos Quatro Regimes na Bíblia

Tudo que é relacionado com o matrimônio e o divórcio são assuntos de suma importância, que não podem passar desapercebidos pela Igreja. Vamos tratá-los nesta ocasião, esquadrinhando a Palavra de Deus, pelo Seu Santo Espírito. Em nenhum momento pretendemos ser dogmáticos, porém mostrar nossa interpretação conforme à Bíblia. Procuremos, pois, deixar que a Palavra de Deus fale, e procuremos entender o que ela diz. Não devemos chegar a ela com nossos preconceitos ou com qualquer interpretação de outra pessoa; não chegar à Escritura com nossos sentimentos, porque quando impomos nossos sentimentos, nossos conceitos à Bíblia, então, não a deixamos falar o que ela diz, mas queremos seguir falando e colocando nossa própria opinião. Se alguém tem seus próprios gostos, preferências e preconceitos, isto interfere na legítima interpretação da Bíblia (…).
Não estamos aqui para tratar de casos específicos, mas sim de casos genéricos; de maneira que só vamos tratar aqui o aspecto doutrinário (…) Às vezes não conhecemos bem o que a Palavra diz nem conhecemos bem os casos, e nos metemos a diagnosticar, a receitar sem conhecer nem o remédio nem o caso em particular. Tudo isto vamos ver à luz da Palavra de Deus com a ajuda da providência divina. Vamos procurar ler o que a Palavra disse, deixemos Deus dizer o que Ele diz a respeito.Inicialmente quero começar lendo uma passagem do A.T. (Antigo Testamento). (…) As passagens que vamos ler no N.T. (Novo Testamento), estarão fazendo referência à parte do A.T. e à tradição israelita, é este foi o ambiente do tempo do Senhor Jesus. O Senhor Jesus se moveu no meio de Israel; Israel tinha já raízes; havia uma raiz bíblica e também uma raiz popular, também havia escolas, tradições e costumes, e isso servia de pano de fundo para o ambiente das perguntas que foram feitas ao Senhor Jesus e para as respostas do Senhor Jesus a respeito. É por isso que vamos começar pelo A.T..
Vamos dividir o tabuleiro em quatro partes. A primeira parte se divide em duas linhas para distinguir das outras três, e corresponde ao A.T., (…) ao regime da Lei (…). As outras três partes do tabuleiro correspondem ao N.T.. As outras três seções, as do N.T., são: 1º. o regime ordinário; 2º. o regime da exceção, e a 3ª. o regime misto. (…).
O Regime da Lei
Em Deuteronômio 24, encontramos um subtítulo chamado “Leis Diversas”, que vem desde o cap. 23 vers. 15e continua até o cap. 25. vers. 17 (…). Esta seção não tem nenhuma referência debaixo desse subtítulo. Isto quer dizer que o tema se trata exclusivamente nesta passagem, e não é tratado em nenhum outro lugar da Bíblia. Deut. 24:1-4, foi o regime que Deus, pela mão de Moisés, até a vinda de Cristo, instituiu para com Israel, no A.T.
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não achar graça aos seus olhos, por haver ele encontrado nela coisa indecente, far-lhe-á uma carta de divórcio e lha dará na mão, e a despedirá de sua casa”(VRA).
O que aqui se traduz por “coisa indecente” é uma palavra hebraica que aparece somente uma vez em toda a Bíblia, e aqui o tradutor a chamou de “coisa indecente”; porém, como a palavra não aparece em outro lugar, então, criou certa confusão para o povo de Israel: (…) Bom, o que quer dizer coisa vergonhosa? Qual é o alcance dela?” Então, se formaram varias escolas de interpretação. Entre os rabinos antes de Jesus, houve o que chamaram “o par”, mostrando-nos que houve duas escolas com duas linhas distintas de interpretação. Estas duas linha de ensino é o que se denomina de “par”. Estas linhas (…) foram passando de geração em geração, até chegar aos mais renomados intérpretes da Lei, que foram, de um lado, Hilel (o Gamaliel de Atos 5:34 era neto de Hilel), e, do outro lado, Shamai. Estes foram dois rabinos muito respeitados, que eram os com maior autoridade na interpretação da Bíblia. É importante saber isto, porque na própria Bíblia, no A.T., diz Deus em uma Lei que, se algum caso fosse de difícil resolução, que se fosse consultar os anciões do povo. O povo tinha a Bíblia; porém, se alguém tivesse dificuldade para interpretá-la, devia ir perguntar aos sacerdotes, aos anciões, e, segundo eles lhes dissessem, assim fariam.
Mas o que aconteceu é que, no caso do divórcio e casamento, graças aos problemas que constantemente estavam presenciando, sempre surgiam questões no meio do povo de Israel. E, segundo lemos em Deut. 24:1, esta palavrinha que se traduz por “coisa indecente” causava muita dificuldade na interpretação. Então, vinham perguntar aos rabinos o que queria dizer (…), pois a palavra aparece somente uma vez no texto, e não havia outros versos com os quais pudessem fazer uma comparação (…).
(…) A escola de Hilel era uma escola ampla, (…) bem liberal. Basicamente, Hilel interpretava esta palavra (…) por qualquer coisa que incomodasse ao esposo. Então os que seguiam (…) a interpretação de Hilel permitiam o divórcio por qualquer coisa que desagradasse ao marido (…).
Por outro lado, Shamai era o representante de uma escola mais restrita, e interpretava esta palavra (…) como “fornicação”, e não aceitava nenhuma outra coisa para autorizar o divórcio (…).
Este era o ambiente que se vivia no tempo do Senhor Jesus. Então, os judeus correram ao Senhor para que Ele lhes interpretasse esta passagem, porque este era o regime da lei; e eles estavam debaixo da lei e queriam obedecer a Deus por meio da lei de Moisés e obedecer à interpretação dos anciões do povo, dos quais Deus lhes havia dito que, quando não entendessem, fossem a eles. (…) Hillel permitia várias causas para dar-se o divórcio; em contrapartida, Shammai somente permitia em caso de fornicação. Por isso, no N.T. encontramos o Senhor dizendo que a verdade sobre isso é o que Ele mesmo diz. (…).
“Se ela, pois, saindo da casa dele, for e se casar com outro homem, e este também a desprezar e, fazendo-lhe carta de divórcio, lha der na mão, e a despedir de sua casa; ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer; então seu primeiro marido que a despedira, não poderá tornar a tomá-la por mulher, depois que foi contaminada; pois isso é abominação perante o Senhor. Não farás pecar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança”.
Até aqui temos o caso do divórcio e casamento no regime do A.T.. Com esses questionamentos que havia no meio do povo de Israel, com essas duas escolas, uma bem liberal e outra restrita, a de Hillel e a de Shammai, agora chegam onde o Senhor Jesus está, o rabi, o mestre, e lhe perguntam (…).
O Regime Ordinário
(…) Primeiro vamos analisar, lendo o que diz Mateus e o que diz Marcos, porque os dois estão registrando o assunto baseado em suas memórias. Lembremos de uma coisa: Marcos não era um discípulo seguidor direto de Jesus Cristo. Marcos era intérprete de Pedro; havia sido cooperador de Pedro. Pois, segundo a tradição, nos escritos de Papias de Hierápolis, e daí por diante, a tradição eclesiástica diz que o Evangelho de Marcos foi escrito quando Pedro chegou a Roma e ensinou o evangelho de forma oral, não na ordem, mas segundo a necessidade. Então foi-lhe pedido que o que se havia sido ensinado na forma oral ficasse também registrado na forma escrita. O mesmo Pedro (…) diz que ele diligentemente procurou que eles sempre tivessem memória das coisas que ele lhes havia ensinado da parte do Senhor Jesus (2 Pd 3.2). (…).
Alguns dizem que Mateus se baseou em Marcos, porém essas são conjecturas dos estudiosos das questões sinópticas, ou seja, a relação de Mateus com Marcos e com Lucas e com João; porém, Mateus, sim, era um dos doze apóstolos que seguiram a Jesus; de maneira que, ainda que Marcos não tenha registrado a regra da exceção, Mateus era um dos apóstolos e não necessariamente tinha de confiar em tudo o que Marcos escreveu, pois ele sim havia estado presente, sendo testemunha ocular dos atos de Jesus, e se recordou dos detalhes. Então, o que aconteceu? Uma mesma situação pode ser contada por duas pessoas de forma diferente; palavras mais ou menos parecidas, porém um esquece uns detalhes e omite outros, e o outro esquece outros detalhes e também omite outros.
Este episódio não sucedeu duas vezes, mas uma só. Porém havia uma testemunha que era Mateus e outra que era Pedro, e Marcos ouviu o que contava Pedro. Agora vamos ouvir as lembranças de Pedro por meio de Marcos, e as lembranças de Mateus, e vamos colocá-las juntas com o fim de ter uma visão mais completa do que foi perguntado e do que foi respondido. Porque se nós somente tomarmos Marcos, veremos que Mateus disse algumas outras coisas. Então, vamos querer dizer que Mateus não foi inspirado. E se tomamos Mateus, que disse umas coisas, porém não disse outras de que falou Marcos, então, poderemos também dizer que Marcos não foi inspirado. Não necessariamente é assim. Lembre-se de que a arca tinha de ser levada por quatro levitas, e a arca representava Cristo; agora vemos os quatro evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João – levando o testemunho do Senhor Jesus.
O Senhor permitiu que Ele pudesse ser contemplado destes quatro ângulos, porque um só não é suficiente para captar tudo. O Espírito Santo pode guiar e fazer ver as coisas, segundo a preparação e o lugar que essa pessoa vai estar no plano de Deus, pode estar inclinada a lembrar-se muito mais de umas coisas, que lhe chamam mais atenção, a uns detalhes, e a outras coisas ela não as tem em conta, não porque não existiram, mas simplesmente porque para ela não tiveram tanto significado, porque ela não havia sido preparada para este aspecto. Porém para o outro era outro objetivo, com outro enfoque, com outra preparação, e tinha de haver testemunhas destes quatro ângulo. Portanto, tinha a possibilidade de ver as coisas que o outro não viu e que a outro foi mostrado ou que teve a sua atenção capturada. (…).
Então, seguramente o que chamou mais a atenção de Mateus foi algo que não interessou aos outros evangelistas; porém, não é porque os outros evangelistas se calaram que vamos nos calar também, porque o Senhor Jesus não o calou; é por isso que temos os testemunhos de Mateus e Marcos. Vamos ler agora em Mateus 19.1-3:
“(…) Aproximaram-se Dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo.”
Fixe-se neste detalhe que Mateus captou. Eles Lhe perguntavam não só se é lícito repudiar a sua mulher, mas agregaram as palavras “por qualquer motivo”. Por quê? Lembre-se do pano de fundo que havia. A escola de Hilel interpretava essa passagem de Deuteronômio, aquela “coisa indecente ”, praticamente de maneira tão ampla, que qualquer coisa podia caber aí, e isso é o que aparece aqui em Mateus como “qualquer coisa”. Eles estavam duvidando. “Será que por qualquer coisa pode repudiar o homem a sua mulher?”.
“Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio homem e mulher, e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne?”
Aqui o Senhor está citando Gênesis 1.27 e 2.24. Logo o Senhor tira conclusões dizendo: “Assim já não são mais dois, mas um só carne. Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem” (Mt 19.6).
(…) Porém eles ainda não ficaram satisfeitos. Por quê? Porque eles não eram cristãos; eles eram israelitas, e mesmo os que eram cristãos, que criam Nele, ainda estavam debaixo do regime da lei de Moisés. O que se vê hoje no N.T. ainda não era claro naquele momento. E aqui os que perguntavam eram os fariseus.
“Responderam-lhe: Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?” (v. 7). Eles estavam se referindo a Deuteronômio 24.1-4, onde Moisés fala que, no caso de alguma “coisa indecente”(…) autorizava repudiar.
Então o Senhor lhes responde: “Disse-lhes Ele: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio” (v. 8).
Antes da queda do homem, Deus os havia estabelecido assim; e aqui o Senhor está dizendo: “Bom, vocês vão a Moisés e encontram essa situação; porém, vocês sabem por que Moisés lhes disse desta maneira?” Isso foi depois da queda. Por outro lado, Gênesis 1.18-25 fala do principio, de antes da queda; depois da queda os corações ficaram endurecidos. Pela dureza do coração do homem – pois depois da queda o coração do homem se endureceu – Moisés lhes permitiu dar a carta de divórcio. Quando Deus planejou o homem macho e fêmea, Ele não planejou o repúdio.
Alguns dizem que esta provisão tinha por objetivo proteger os direitos de propriedade da mulher divorciada, pois a carta de divórcio obrigava o marido a renunciar ao direito de seu dote.
O Regime da Exceção
Vejamos então como interpretar esta passagem da lei, sem entrar na linha de interpretação de Hillel ou de Shammai, e Jesus, neste caso, deu razão a Shammai (…).
“Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (Mt 19.9).
Lembre-se de que, na lei de Moisés, Deus havia predito que viria um profeta semelhante a Moisés (Dt 18.15-19), e toda alma que não o ouvisse, seria tirada do meio do povo. Ou seja, Jesus não estava contradizendo a Moisés. Jesus disse: “Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em Mim; porque de Mim ele escreveu” (Jo 5.46). Moisés profetizou que um Profeta semelhante a ele seria levantado; então, todo o Israel esperava o Profeta, que se referia ao Messias, ao Servo de Deus, que seria a Palavra final. Por isso a samaritana dizia: “Sei que há de vir o Messias, chamado o Cristo; quando Ele vier nos declarará todas as coisas” (4.25). Porque já a lei havia terminado, já tinham vindo os profetas, porém havia controvérsias; então, eles esperavam que quem dirimisse as controvérsias seria o Messias Profeta.
Então Jesus está falando com propriedade. Em outras partes também diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos” (…); “Eu, porém, vos digo”. (…) Jesus está clareando o que havia sido dito por Moisés, por causa da situação da queda, a dureza dos corações; porém antes da queda não foi assim, pois não era esse o plano original de Deus. Agora vem a queda, vieram também os problemas, porém o mesmo Moisés disse que viria um profeta; e agora esse profeta é o Senhor Jesus, que diz com autoridade:
“Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (Mt 19.9).
Aqui o Senhor Jesus estabelece uma exceção. Marcos e Lucas recordam este ensino do Senhor Jesus, porém sem a exceção. Jesus introduziu uma exceção; por isso falamos do “regime da exceção”. O verso 9 de Mateus 19 sem a exceção ficaria só como o regime ordinário. Ficaria assim: “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” Aí tiramos o “a não ser por causa de fornicação” – somente com o intuito de tornar mais fácil o entendimento do regime ordinário.
Nós (…), podemos colocar a exceção ao principio, no meio ou no final do verso; pois esta é uma regra gramatical válida (…). No idioma grego não se pode fazer isso. No grego, a exceção tem de ser posta no meio do texto. Por exemplo: podemos dizer: “Aqui todos são brasileiros, menos os que nasceram em outro país ” ou: “Exceto os que nasceram em outro país, aqui todos são brasileiros”. Ou seja, podemos pôr a exceção no principio (…), no final ou, às vezes, no meio da frase. No idioma grego, a exceção da regra tem de ser colocada no meio do que se está fazendo a exceção (…).
Notem que Marcos e Lucas não citam a exceção; ou melhor, que Marcos 10.2-12 e Lucas 16.18 pertencem ao regime ordinário. Mateus 19.9 cita o regime ordinário; Marcos 10 cita o regime ordinário; Lucas 16 cita o regime ordinário; Romanos 7 cita o regime ordinário; 1Coríntios 7 cita o regime ordinário e o regime misto. O regime de exceção só é citado por Mateus 5.32 e 19.9, e o regime misto só é citado em 1Coríntios 7.
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério” (Mt 5.32).
Aqui, como em Mateus 19.9, se refere ao regime ordinário, porém menciona o regime da exceção, quando diz: “A não ser”. Neste caso de não ter havido fornicação, então, se salta essa exceção. A interpretação que Hillel fazia dessa “coisa indecente” em Deuteronômio 24 não é aceita pelo Senhor Jesus; mas sim o que dizia Shammai. Dessa “coisa indecente”, o único que se permite para que haja divórcio e a pessoa possa ficar livre e possa se casar outra vez, é somente no caso em que tenha havido fornicação; porque isto o havia mandado Deus depois da queda por mão de Moisés. (…). É importante ter em conta que a ação adúltera de um dos cônjuges é igual à morte, pois o adultério rompe o vínculo matrimonial; ao unir-se sexualmente com outra pessoa, se faz um com essa outra pessoa (1Co 6.16).
Concordância Textual
Então, qual é o regime ordinário? Vemos ver em Marcos e Lucas, onde não aparece a exceção.
“Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela” (Mc 10.11).
O que é um adultério? Um adultério se comete quando um homem ou uma mulher que já tenha casado se casa com outra(o). Isso é o que diz em Romanos 7. Durante a vida do marido, a mulher não pode casar-se com outro e vice-versa; e o que se casa com a repudiada, ou seja, o segundo marido dela – aquele a quem Hillel havia dito: “Não tem problema” – esse comete adultério. Segundo a interpretação de Hillel, Moisés diz: “Por qualquer motivo… porque diz Moisés que se você encontrar coisa indecente, então pode repudia e dar carta de divórcio, e ela poderá ir e se casar com outro.” Porém, o que disse Jesus? “E eu, porém, vos digo”. Jesus não está contradizendo a Moisés, mas à interpretação liberal de Hillel, e está dando razão a Shammai, que dizia que a única coisa indecente pela qual se podia repudiar era quando houvesse caso de fornicação.
Agora, Jesus disse: “Eu, porém, vos digo,” ou seja, Quem fala é a máxima autoridade de quem é dito: “A Ele ouvi”. E não há nenhuma outra autoridade para nós acima de Jesus. Vemos que o Senhor estabeleceu, Ele mesmo, o regime ordinário, com uma exceção, citada em Mateus 5.32 e em 19.9, que é no caso de fornicação.
Agora vemos o regime ordinário em Marcos 10.1,2:
“(…) Então se aproximaram Dele alguns fariseus e, para o experimentarem, lhe perguntaram: É lícito ao homem repudiar sua mulher?”
Marcos diz: “É lícito repudiar a sua mulher”; porém Mateus insistiu em ressaltar o “por qualquer coisa”. Ou seja, Mateus está tendo uma visão mais ampla que Marcos. Mateus é uma testemunha ocular; por outro lado, Marcos era uma testemunha de uma testemunha. Aí está, pois, a primeira diferença. Segue o verso 3:
“Ele, respondendo, lhes disse: o que vos mandou Moisés?”
Aqui vemos que o Senhor não está contra Moisés. Ele sabe que Deus os pôs debaixo da lei de Moisés, e Ele lhes disse: “O que vos mandou Moisés?” Vejamos a resposta no verso 4:
“Eles disseram: Moisés permitiu dar carta de divórcio, e repudiá-la.”
Veja como eles dizem de maneira tão ampla; ou seja, Moisés permitiu-nos dar carta de divórcio e repudiar. Porém, qual era a condição colocada por Moisés? Moisés disse: “Se achar nela alguma coisa indecente”. Essa tradução no seu original é uma palavra hebraica que é traduzida por “fornicação”. Por isso o Senhor Jesus dá razão ao rabino Shamai; porém eles estão falando ao Senhor como se Moisés lhes houvesse dado liberdade absoluta, o que não é verdade. Era má interpretação que se fazia de Moisés. Por isso lhe disseram: “Moisés permitiu dar carta de divórcio, e repudia-la.” O que respondeu o Senhor Jesus? Leiamos o verso 5:
“Disse-lhes Jesus: Pela dureza dos vossos corações ele vos deixou escrito esse mandamento”.
Ou seja, Deuteronômio 24, que não é exatamente igual ao que eles estavam dizendo. Eles estavam dizendo na prática que era permitido: “Se não gostar da sua mulher, divorcie-se dela e case-se com outra.” “Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne. Porquanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem “(Vss. 6 a 9).
“Em casa os discípulos interrogaram-no de novo sobre isso” ( Vs. 10). Isto é uma lembrança de Pedro por meio de Marcos, da qual Mateus passou por cima; ou seja, que a continuação do assunto foi em casa e somente com os discípulos. Se lermos somente em Mateus, pareceria que as perguntas foram formuladas todas pelos fariseus; porém quando lemos em Marcos vemos que o assunto continuou com os discípulos; ou melhor, que o regime ordinário, sobre o qual Ele respondeu aos fariseus, é aplicado aos discípulos e ensinado aos discípulos, e estabelecido no interior da Igreja agora também. Por isso temos de ver em Mateus e Marcos para ter mais completa as coisas, a partir dos dois pontos de vista.
“Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela; e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério” (vv. 11,12).
Note que o verso 12 não tinha sido dito por Mateus, porém o Senhor o disse, e é registrado aqui por Marcos. A conversa foi mais longa, porém está muito resumida tanto da parte de Mateus como de Marcos. Mateus não registrou este último detalhe. Tenhamos em conta que Mateus escreve seu Evangelho dirigido principalmente aos judeus, em um ambiente judeu; porém Marcos está escrevendo em Roma, para os romanos, onde a cultura era diferente da judaica. De modo que entre a cultura judaica era muito raro que a mulher repudiasse o marido, porém na cultura romana, para quem escrevia Marcos, era muito comum. Agora Marcos, segundo a necessidade foi muito mais amplo, embora falando em poucas palavras.
Lembre-se de que tanto Mateus como Marcos disseram que Jesus ia pregando que os homens se arrependessem porque o tempo havia chegado. Será que Jesus só dizia estas duas frases? Não. Este é o resumo, a essência do que Ele dizia. Ele falava muitas coisas, porém a essência se podia resumir nessas frases, como o resumem Mateus e Marcos. Falaram a mesma coisa. Eles falaram bastante, e voltaram a falar bastante, e logo, de uma forma resumida, a essência é dita em Mateus de forma resumida aos judeus, e Marcos em outro contexto, fala de forma resumida aos romanos, porém, ao juntar tudo, podemos ter um quadro mais completo.
Então, no regime ordinário, qualquer que repudiar sua mulher (aqui Ele está falando aos homens), e se casa com outra, comete adultério contra ela; e se a mulher repudiar a seu marido, e se casa com outro, ela adultera também; e o que se casa com a repudiada, comete adultério. Portanto, como o regime ordinário tem várias frases:
Primeira: qualquer que repudiar a sua mulher e se casar com outra, adultera.
Segunda: e o que se casar com a repudiada, adultera.
Terceira: e se a mulher repudiar a seu marido e se casar com outro, adultera.
Esse é o regime ordinário estabelecido pelo Senhor Jesus.
Agora vamos ver em Lucas 16.18, onde Lucas não ambienta as coisas, porém como acaba de mencionar a lei, então imediatamente introduz o assunto. Fixe-se no contexto em que fala Lucas. Lucas no capítulo 15 fala das parábolas: da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo. Agora no capítulo 16, fala da parábola do mordomo injusto, e, logo depois, registra, a partir do verso 16:
“A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar Nele” (Vs. 16).
Com isto o Senhor está dizendo: “A lei e o A.T. chegam até Mim; agora Eu sou Aquele de Quem falaram a lei e os profetas, o que vai estabelecer todas as coisas”. Segue dizendo no verso 17:
“É, porém, mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei”.
“Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem casa com a que foi repudiada pelo marido, também comete adultério”. Jesus não está contradizendo a lei, mas sim a interpretação liberal que vinha da escola do rabino Hillel.
Lucas disse o mesmo que falou Mateus; somente sem a exceção. Lucas está falando da lei. Vemos, pois, que o regime ordinário está em Mateus 19, em Marcos 10 e em Lucas 16.18.
O Regime Ordinário em Romanos 7
Em Romanos 7 aparece citado o regime ordinário, não com o propósito de ensinar acerca do tema, e isto é digno de se ter em conta. O apóstolo Paulo está tratando de outro tema. (…). Da relação entre a lei e a graça, entre o regime do antigo pacto da letra e o novo pacto do Espírito. Porém ele toma o assunto do matrimônio somente como um exemplo; ou seja, não vai entrar em todos os detalhes, mas toma a essência do regime ordinário para usá-lo como exemplo, para entendermos a relação de havermos casado com outro marido, que é Cristo, estando já mortos para a lei. O tema não é casamento. Porém utiliza o regime ordinário do casamento como analogia para outro assunto.
É muito importante ter isso em conta, porque, se vamos estudar o tema da salvação, por exemplo, e encontramos um versículo em Timóteo que diz: “Porém a mulher se salvará dando a luz filhos…” (1Tm 2.15), e se somente pretendemos estabelecer a doutrina da salvação da mulher por meio de gerar filhos, então as que não tem filhos, as estéreis, não podem ser salvas. Porém o tema aqui não é a salvação. Paulo está falando da aplicação da salvação como resultado na vida normal de uma família. Mas quando em Efésios, Romanos, Gálatas, fala de salvação, aí sim fala muito claro que a salvação é por meio da fé sem obras; é pela graça.
“Ou ignorais, irmãos pois falo aos que conhecem a lei…?”. Aqui, Paulo está falando do regime da lei, não do Senhor Jesus. (…).
“Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus” (v. 4).
Em Romanos 7.3, Paulo cita o regime ordinário em concordância com a lei e em concordância com Jesus, porém não menciona a exceção. (…). Paulo tinha de mencioná-la se não fosse esse o tema? Não. A exceção aqui estaria fora de lugar.
O Equilíbrio entre O Regime Ordinário e o da Exceção
Agora, onde está o tema? Em 1Coríntios 7. E aí ele menciona dois regimes. Menciona o ordinário e o regime misto. Em 1 Coríntios 7.10, lemos sobre o regime ordinário. Porém, deve-se ter em conta que existe uma exceção estabelecida pelo Senhor Jesus, em concordância com Moisés, interpretada de acordo com a linha de Shammai, e que está em Mateus 5.32 e 19.9. Os versos estudados que se referem ao regime ordinário se aplicam aos casos em geral, exceto no caso em que o Senhor estabeleceu uma porta de salvação. Porque se você vai aplicar o regime ordinário onde o Senhor disse: “Salvo neste caso”, então, você estará passando por cima do Senhor Jesus e você estará pondo uma carga mais pesada do que o Senhor colocou. Porque o Senhor Jesus, sim, estabeleceu uma exceção que você está ignorando.
Se você tratar um caso somente com os versos do regime ordinário, porém se o caso for de exceção, você estará fazendo um uso equivocado dos versos onde aparece o regime ordinário, não importa em qual livro esteja escrito no Bíblia. Podemos ter todos esses versos marcados, porém não se aplicam no caso de exceção; se aplicam a todos os demais casos onde não se requer a exceção. Do contrário, a exceção não seria a exceção. Lemos, pois, o regime ordinário em 1Coríntios, com Paulo tratando do assunto do matrimônio. Os versos 10 e 11 de 1Coríntios 7 concordam com os já vistos em Mateus 19, em Marcos 10, em Lucas 16 e em Romanos 7. Eles dizem:
“Todavia, aos casados, mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido; se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher”.
Tenhamos mui presente que a primeira carta de Paulo aos coríntios foi escrita por volta do ano de 53 d. C., antes que se houvessem escrito os Evangelhos de Marcos e de Mateus; ou seja. Paulo está lembrando das palavras do Senhor Jesus, da tradição oral. Quando Paulo fala em 1Tes. 4.15: “Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor”, quer dizer que essa é uma citação da tradição oral, pois, quando foi escrita esta carta, ainda não havia sido escrito nenhum dos Evangelhos. Paulo disse: “Mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido; se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.”. Ou seja, Paulo está baseado na tradição oral do regime ordinário estabelecido pelo Senhor Jesus. Está tratando com outras palavras as implicações. As palavras que Paulo usa são muito interessantes, porque usa a palavra separação, que é diferente da palavra divórcio, a qual vem na forma da palavra repúdio.
A palavra separação não é o mesmo que divórcio. Por que ele diz que se a pessoa se separar que fique sem se casar? Porque está separada, porém o vínculo continua; se, então, se unir a outro homem, adultera. Por que adultera? Porque não aconteceu divórcio, não foi destruído o vinculo matrimonial. A palavra divórcio é a palavra grega apolio de onde vem a palavra Apolion, que significa “destruidor”. Apolio significa “destruir”; é o mesmo que dizer que, no divórcio, no legítimo divórcio, em um caso de exceção por fornicação de um dos cônjuges, ou dos dois, que é a única causa legítima de divórcio estabelecida por Jesus, nesse caso, o vínculo matrimonial se destrói.
Então, uma coisa é divórcio e outra coisa é separação. Aqui disse que “a mulher não se aparte do marido; se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher”. É o mesmo que dizer “continuem casados”. (…). Por isso é até que a morte os separe. Não pode casar-se com outro se seu marido ainda vive; deve ficar sem se casar ou reconcilie-se com seu marido. (…). Então, separação é uma coisa e divórcio é outra. São duas coisas diferentes.
Regime Misto
Tenhamos em conta que a Primeira Carta aos Coríntios foi escrita por inspiração do Espírito Santo, e Paulo foi constituído apóstolo pelo Senhor. Agora, atente como o Espírito Santo guiou as coisas. Já temos visto as implicações de dois regimes: o ordinário e o de exceção. Por que não há somente um regime?
Vejamos o que disse Paulo: “E, aos demais, digo eu, não o Senhor” (v. 12). Ou seja: “Eu não me recordo na tradição oral de nenhuma palavra que o Senhor Jesus tenha dito acerca de outros casos.” Porém Paulo está dizendo que este regime ordinário que ele cita nos versos 10 e 11 (…), não envolve todos os casos. Ou seja, que se você tomar estes versos do regime ordinário e se os aplicar a todos os casos, estará anulando o regime da exceção e estará anulando o regime misto. Porém quando disse: “Aos demais”, significa que não são todos os casos que estão cobertos no regime ordinário e no de exceção, mas há outros casos normais entre crentes que tem seus problemas, porém que não houve fornicação nem da parte de um nem de outro.
(…). Há alguns casos que estão fora do regime ordinário, e significa que o Senhor Jesus não falou desses casos. Paulo não está entendendo que Jesus falou de todos os casos; o Senhor somente falou de uns. (…). Porém, o Espírito Santo mostrou a Paulo que nem todos os casos foram tratados pelo Senhor Jesus. O Espírito Santo, porém, toca nestes casos por meio da Igreja, e leva Paulo a tratar deles e ordena-los também em todas as Igrejas.
Então, quais são esses outros, esses mais, que não estão no regime ordinário? O regime misto. É o de um crente casado com um incrédulo, em que o incrédulo torna a vida do crente insuportável. Esse não é o caso de que fala o Senhor Jesus nos Evangelhos. Então, se você se encontra com um desses casos que pertencem ao regime misto, e lhe aplica os versos do regime ordinário, vai colocar em uma situação extremamente difícil uma pessoa à qual o Senhor mesmo e o Espírito Santo não colocou.
Então, quais são os demais casos que não cabem dentro do regime ordinário? São estes os aparecem em 1 Coríntios 7, são os do regime misto. Diz no verso 12: “Mas aos outros digo eu, não o Senhor”. (…). O que o Senhor trata, está no contexto dos fariseus e dos discípulos, de Seu povo, porém não trata dos casos relacionados com incrédulos. Porém nós vamos evangelizando e encontramos casos de irmãos que estão nesta situação, e o Espírito Santo nos move e ajuda-nos a ver o que fazer com estes outros casos. Isso quer dizer que o regime ordinário não abrange todos os casos.
“Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher incrédula, e ela consente em habitar com ele, não se separe dela” (v. 12). Isto é, no caso de um matrimonio misto, de um crente e um incrédulo, não é lícito ao crente tomar a iniciativa de divorciar-se. Se algum crente está casado com uma mulher incrédula, e ela não adulterou, então, ele não pode divorciar-se; não deve tomar a iniciativa, se ela consente em viver com ele. Agora, se ela abandona a casa e se vai, então, este é outro caso.
“E se alguma mulher tem marido incrédulo, e ele consente em habitar com ela, não se separe dele. Porque o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente; de outro modo, os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.” Aí se tem em conta principalmente os filhos. Se o incrédulo não tem problemas, então, não se separem. “Mas, se o incrédulo se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou a irmã, não está sujeito à servidão; pois Deus nos chamou em paz.” (v. 15).
Aqui se refere a um caso de regime misto. Os outros casos são de regime ordinário. No caso de regime misto, se o incrédulo quer se separar, separe-se. O que acontece, então, com o irmão ou com a irmã? Não estará sujeito à servidão. (…). Se o cônjuge incrédulo se separar e for embora, o cônjuge crente não deve ficar sujeito à servidão. Os casos não são todos iguais; por isso Paulo fixa estes casos diferentes. Neste caso é melhor que o crente não tome a iniciativa do divórcio, se não houve adultério. Por quê? “Porque quem sabe se tu salvarás ao teu cônjuge.” (…). E isto Paulo está ordenava em todas as Igrejas (v. 17). São os casos que aprova o regime ordinário, não o regime de exceção. Porém não deve o crente tomar a iniciativa, a menos que haja o caso de adultério. Se houver adultério, então, se pode divorciar se quiser.
“Pois, como sabes tu, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes tu, ó marido, se salvarás tua mulher? Assim, ande cada um como o Senhor o chamou. E é isso o que ordeno em todas as igrejas” (vv. 16,17).
Então, o regime misto (…) é uma ordenança apostólica por meio do Espírito Santo, não de palavras do Senhor, porque o Senhor não tratou desses casos, mas os deixou ao Espírito Santo. Em uma ocasião Ele disse: “Ainda tenho muitas coisas que dizer, porém, agora, não as podeis entender. Porém, quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16.12,13). “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu” (Mt 18.18).
Então, o que temos aqui? Outro regime: o regime misto. O que fazer com os demais casos? O que é dito em 1Coríntios 7.12-17; e isso é uma ordem apostólica a todas as Igrejas. Agora você pode dizer: “Não, Paulo não é o Senhor.” Isso é verdade; Paulo não é o Senhor. Porém o Espírito Santo foi quem guiou a Paulo, e o Espírito Santo lhe inspirou para tratar desses e de outros casos que não estão no regime ordinário.
Uma Ênfase Final
Terminemos enfatizando de novo o regime de exceção. “Também foi dito: Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de relações sexuais ilícitas, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério” (Mt 5.31-32).
Vemos que há uma exceção. (…). Não é que esteja obrigado a repudiar ou a divorciar; pode perdoar. Porém o Senhor sabe como é cada situação; então, Ele mesmo, em Mateus 5.32 e 19.9, estabeleceu uma exceção. Qual é essa exceção? Fornicação. Qual é, então, a coisa indecente? É a fornicação. Vemos, pois, que tinha razão o rabino Shammai, que é a interpretação mais próxima do ensino do Senhor Jesus.
Agora, o que é fornicação? Fornicação é toda relação sexual ilícita. O adultério cabe dentro da fornicação. A palavra fornicação é muito mais ampla que a palavra adultério. Se a relação ocorre entre dois solteiros, não é adultério, é fornicação. Porém, se a fornicação é entre um solteiro e um casado, ou entre dois casados, essa fornicação é adultério. Ou seja, a palavra adultério envolve menos que a palavra fornicação, porém a palavra adultério está incluída na palavra fornicação. O adultério é incluído na fornicação, segundo o uso do próprio Senhor Jesus. Vamos ver como o Senhor usa essas palavras, adultério e fornicação.
Em Apocalipse 2.20-22 o Senhor diz: “Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos; e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem adultério com ela, se não se arrependerem das obras dela”.
Estes versos correspondem a palavra fornicação usada ao regime da exceção, pois define que o adultério sempre inclui a fornicação. Por que dizemos isto? É porque existem alguns irmãos que dizem que a fornicação só acontecia se o homem descobrisse que sua esposa não era virgem ao realizar-se o casamento, tendo como o único motivo para, então, poder repudiar a esposa; porém, se depois de casado a esposa adulterar, tem de suportar. Assim pensam alguns hoje. Ou se houver adultério por parte do marido, a mulher tem de suportá-lo. Porém o que diz aqui a Palavra do Senhor? Vejamos como, na boca de Jesus, adultério e fornicação não são duas coisas separadas, mas que uma está dentro da outra. Se houve adultério, houve fornicação, e se houve fornicação com alguém casado, houve adultério.
O Senhor Jesus está dizendo nesta passagem que “fornicar com ela é adulterar com ela”; que fornicação e adultério se relacionam. Se alguém pretende dizer que, por “causa de fornicação” significa que a mulher não era virgem quando chegou ao matrimônio, e que isto não implica o adultério, não está dando o alcance que Jesus dá à palavra fornicação. Aqui, em Apocalipse, fala que cometem fornicação os que com Jezabel adulteram. Vemos, pois, que adulterar é fornicação.
Portanto, a exceção é a seguinte: em nenhum outro caso, senão no caso de fornicação (e aí se inclui o adultério), um cônjuge pode repudiar ao outro. Não há outro caso que justifique (…). Deus não dá nenhum outro motivo para divorciar-se; a não ser somente em caso de fornicação. Se alguém repudiar sua mulher por outro motivo e se casar com outra, é adultério; e se alguém se casa com a repudiada, é um adúltero.
Não há senão uma só causa de divórcio legítimo estabelecido pelo Senhor Jesus, e que deixa a pessoa livre: se houve fornicação. Nesse caso, a pessoa ofendida tem direito, se quiser, ao divórcio. Não está obrigada, pode perdoar, ou então não perdoar e solicitar o divórcio. Agora, caso não peça o divórcio e se mantiver sem casar, o conjugue, mesmo que tenha pecado, permanece ligado. (…). Se houver fornicação, está dentro dessa porta aberta [o regime de exceção] para um novo casamento. Só pode haver divórcio por causa da única causa estabelecida pelo Senhor, por ser a única culpa: a fornicação. Se houve fornicação por parte de um dos cônjuges (não somente da mulher), então o outro cônjuge, por ser afetado, tem direito de divorciar-se, e ficar assim livre e casar-se com outra pessoa que esteja livre. Aí não se aplica o regime ordinário, porque esse regime não absolve ao regime de exceção. A pessoa fica no legítimo direito do divorcio. E se houve fornicação, pode-se divorciar, e se casar novamente.
Quando já houve o divórcio legítimo, outorgado pela pessoa ofendida, ou se os dois se traíram, então, os dois se dão mutuamente carta de divórcio legítimo. Às vezes, somente a mulher tem direito a divorciar-se ou às vezes somente o marido tem direito. Às vezes, os dois têm direito dentro do regime de exceção, se houve fornicação. Se houve fornicação não se pode aplicar os versos do regime ordinário, porque o Senhor disse: “exceto” ou “salvo” (…).
Esta carta de divórcio deve ser redigida constando data específica, testemunhas e causa legítima. Esta carta deve ser entregue a pessoa que está sendo repudiada(o) para que ela saiba que está sendo divorciada(o), e apresentar sua carta de divórcio e deixar a outra pessoa livre, porque houve fornicação. A partir desse momento, a pessoa fica livre por estar debaixo do regime de exceção (…).
Tudo deve ser feito conforme as leis do país onde se resida. Se alguém não encaminha o processo às autoridades competentes e cumpre os requisitos que exigem a lei, ao ir a um cartório para se casar de novo, esta pessoa poderá ser acusada de bigamia; porque também o Senhor quer que se obedeça às leis do país em que se vive. O divórcio deve ficar legalmente reconhecido. O divórcio deve ser feito diante do Estado. Deve ser feita uma carta de divórcio, conforme diz o Senhor, porém deve fazer-se diante do Estado, no lugar em que se registra e se legaliza, diante das autoridades competentes.
O ofendido é o que dá o divórcio, não o pede. (…). Não é o que adultera o que dá o divorcio, mas o ofendido. Se não se divorciam, tampouco podem-se casar. Se não se der carta de divórcio, tendo direito a ela, continua casado legalmente e não se pode casar com outro. Se der a carta de divórcio, fica livre e o outro também fica livre. Porém, isto no caso de fornicação.
Os católicos vão ao extremo de proibir o divórcio nos casos em que o Senhor não o proíbe, e há outros que vão ao extremo de concedê-lo por qualquer outra causa que o Senhor não admite, pelo cônjuge ser viciado em drogas ou por outro motivo não legítimo.
Que o Senhor nos ajude.
Assuntos de Matrimônio e Divórcio”, ministrado na localidade de Tunjuelito, Santafé de Bogotá, D. C., Colômbia, em 23 de janeiro de 1999. Os direitos são do autor. Permite-se a reprodução total e a distribuição gratuita do presente documento, sem qualquer alteração, com a única condição de citar inteiramente a fonte a fim de colaborar e preservar a integridade do texto. Sem tal citação, o autor não pode fazer-se responsável por um novo texto. Texto não revisado pelo autor. Traduzido por irmãos da igreja em Contagem. Foi mantida a forma oral da mensagem.)

(Resumido e adaptado por Gerson Lima)
por Gino Iafrancesco Villegasi

Fonte: Impacto