Mohamed ElBaradei abandonou a disputa presidencial reclamando da dimensão da fraudulência.
por Daniel Pipes e Cynthia Farahat
National Review Online
24 de Janeiro de 2012
Original em inglês: Don't Ignore Electoral Fraud in Egypt
Tradução: Joseph Skilnikhttp://pt.danielpipes.org/10554/fraude-eleitoral-egito
Quando a Câmara Baixa do Egito
foi convocada em 23 de janeiro, os islamistas tinham assegurado 360
das 498 cadeiras, ou seja, 72 porcento. Entretanto, esse número
espantoso reflete menos a opinião pública do país e mais o estratagema
da liderança militar governante para permanecer no poder.
No recente artigo ("Eleição Fraudada no Egito,"
de 6 de dezembro) sustentamos que assim como no passado, Anwar
El-Sadat e Hosni Mubarak "conferiram poderes, taticamente, aos
islamistas, como manobra para obter apoio do Ocidente, armas e
dinheiro", Mohamed Tantawi e o Conselho Supremo das Forças Armadas
(SCAF) "ainda apostam nesse antigo jogo, já desgastado".
Apresentamos três provas para essa asserção: (1) fraudes eleitorais locais, (2) oferecimento por parte do SCAF de um "acordo" aos islamistas e (3) contribuição com subsídios aos partidos políticos islamistas pelos militares. Após sete semanas, vários sinais apontam para fraudes em uma escala muito maior.
O Partido dos Egípcios Livres,
o mais importante partido político liberal tradicional do Egito,
anunciou em 10 de janeiro ter apresentado mais de 500 denúncias sobre as
eleições da Câmara Baixa, "mas não foi tomada nenhuma ação legal" a
respeito. O partido decidiu abandonar as próximas eleições da Câmara
Alta pelo fato de "transgressores obtém ganhos eleitorais enquanto
aqueles que respeitam as leis são punidos", reivindicando o seu
cancelamento.
Mohamed ElBaradei,
ex-diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA),
retirou sua candidatura à presidência em 14 de janeiro por conta da sua
percepção de fraude nas eleições: "Minha consciência," proclamou ele,
"não me permite concorrer à presidência ou a qualquer outro cargo
público a não ser que seja no contexto de um verdadeiro sistema
democrático".
Logotipo do Conselho Nacional Egípcio. Seu slogan: "Pão - Liberdade – Justiça Social".
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Seis
candidatos ao parlamento fizeram denúncias formais contra uma série de
autoridades e exigiram que as eleições fossem anuladas e realizadas
novamente, segundo relatos do jornal El-Badil
em sua edição de 10 de janeiro. Um dos candidatos do Partido Wafd,
identificado como Ibrahim Kamel, expôs como adquiriu documentos do
governo, indicando que menos de 40 milhões de egípcios estavam aptos a
votar, ao passo que 52 milhões de eleitores votaram nas eleições,
mostrando a existência de 12 milhões de votos fraudulentos. Segundo ele,
esse incremento foi alcançado tomando os nomes e números de
identificação de eleitores legítimos, duplicando-os entre 2 e 32 vezes
em outras zonas eleitorais.
Mamdouh Hamza, chefe da ONG Conselho Nacional Egípcio, confirmou essa fraude ao El-Badil,
denominando-a "o maior crime de fraude da história egípcia". Ele
exigiu que as eleições da Câmara Baixa fossem realizadas novamente,
desde o início.
Em
contrapartida os vitoriosos islamistas, que menosprezam a democracia,
não se deram o trabalho de ocultar seu sucesso eleitoral por meio de
fraude. Alguns chegaram até a assegurar orgulhosamente e, sem nenhum
constrangimento, que é o dever islâmico serem desonestos. Tal'at Zahran, importante salafista, chamou o sistema democrático de "infiel," "criminoso" e "oriundo dos Sábios de Sião". Ele frisou cinicamente que "é nosso dever falsificar eleições, Deus irá nos recompensar por isso".
Tal'at Zahran, trajando vestimentas árabes (não egípcias), indicando sua orientação salafista.
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Reveladoramente, Zahran também teceu elogios a Tantawi: "Da mesma forma que demos a Mubarak o bay'a
[juramento islâmico de lealdade], agora apoiamos o SCAF. Se Tantawi
decidir continuar no poder, daremos apoio a ele até o final de seus
dias". Relatos indicam que os islamistas e os militares estão trabalhando harmoniosamente juntos
em questões chave como a autonomia das forças armadas e emendas na
constituição de 1971. Sua cooperação faz sentido, dado que os islamistas
buscam a unidade muçulmana para que possam pôr em foco sua total
atenção no inimigo infiel (principalmente judeus e cristãos).
Com
tanta evidência de fraude à disposição, ficamos desnorteados ao ver
políticos ocidentais, jornalistas e estudiosos continuarem a encarar os
resultados fajutos das eleições egípcias, que acabaram de ser
concluídas, como uma manifestação válida da vontade popular. Onde estão
os jornalistas cínicos para lançarem dúvidas sobre os salafistas vindos
do nada para obterem 28 porcento dos votos? Por qual motivo analistas
duros e astutos, que vêem com clareza fraudes nas eleições na Rússia e
na Síria, caem no "maior crime de fraude da história egípcia"? Quem
sabe estejam dando um tempo ao Cairo, por conta da sua colaboração com
as potências ocidentais por cerca de 40 anos, ou talvez porque Tantawi
engane de forma mais convincente.
Dado o desdém explícito do SCAF
frente ao resultado das eleições, estamos também surpresos com a
esperança dos analistas de que elas pesem de forma significativa sobre o
futuro do país. Na realidade, o SCAF manipulou as recentes eleições em
benefício próprio, os islamistas são peões nesse drama, não reis.
Estamos testemunhando não uma revolução ideológica e sim um corpo de
oficiais militares continuando no controle, para desfrutar os doces
frutos da tirania.
O Sr. Pipes é o presidente do Middle East Forum e membro Taube da Hoover Institution. A Srta Farahat é uma ativista egípcia e coautora de um livro sobre as manifestações de protesto da Praça Tahrir.
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